Um homem no escuro era um criador. Na escuridão as grandes barganhas se fazem. Foi dizendo "oh Deus" que Martin sentiu o primeiro peso de alívio no peito. Respirou devagar e com cuidado. Tornar-se dói. O homem teve a penosa impressão de ter ido longe demais.
Talvez. Mas pelo menos por um instante de trégua não teve mais medo. Só que sentiu aquela solidão inesperada. A solidão de uma pessoa que em vez de ser criada cria. Ali em pé no escuro, sucumbindo. A solidão do homem completo. A solidão da grande possibilidade de escolha. A solidão de ter que fabricar os seus próprios instrumentos. A solidão de já ter escolhido. E ter escolhido logo o irreparável: Deus.
Clarice Lispector, em A maçã no escuro (Editora Nova Fronteira).
via site do Ricardo Gondim
8.2.09
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