No romance Fantasma sai de cena (Exit ghost), do americano Philip Roth, um escritor, depois de viver isolado nas montanhas por dez anos, chega a Nova York: “O que mais me surpreendeu foi a coisa mais óbvia – os telefones celulares. Na Manhattan de que eu me lembrava, as únicas pessoas que andavam pela Broadway aparentemente falando sozinhas eram os loucos. O que acontecera que agora havia tanto a dizer e com tanta urgência que não dava para esperar?
(...) Alguma coisa que antes inibia as pessoas agora havia desaparecido, e por isso falar sem parar ao telefone se tornara preferível a caminhar pelas ruas sem estar sendo controlado por ninguém. (...) Para mim, isso tinha o efeito de fazer com que as ruas se tornassem cômicas, e as pessoas, ridículas.
Havia também um lado trágico nisso. A anulação da experiência da separação. (...) Você sabe que pode ter acesso à outra pessoa a qualquer momento, e, se isso se torna impossível, você fica impaciente e zangado, como um deusinho idiota. (...) Tendo vivido parte da minha vida na era da cabine telefônica, cujas portas dobradiças podiam ser hermeticamente fechadas, impressionava-me aquela falta de privacidade. (...) Eu não conseguia compreender como alguém podia imaginar que levava uma vida humana falando ao telefone metade do tempo em que estava acordado”.
Citação de Ruth Aquino na revista Época. Leia o artigo completo.
7.3.09
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