Faz tempo que comecei a me desencartar mais com a “causalidade” do que com a “casualidade”. Tudo isso por uma causa. Todo estímulo conserva uma resposta, ainda que esta às vezes passe desapercebida.
Nunca havia imaginado que também Deus provocasse estímulos, buscando uma resposta. Creio que isso aconteceu comigo. Depois de anos de idas e vindas, rupturas e reconciliações, buscas profundas e aproximações falidas; depois de tudo isso, uma nova oportunidade me apareceu. Dei conta de que esta oportunidade chegou quando estava realmente preparada para isso, porque caso aparecesse anos antes, certamente não teria prestado a devida atenção, sendo sua voz silenciada por muitos ruídos que ressoavam então em minha vida. Devo admitir que por mais que não entenda os desígnios de Deus para comigo, por mais que tenha tentado, a passos largos, me separar dEle, por mais que pensasse que poderia construir minha vida sem sua companhia, o anseio de tê-lo comigo sempre esteve aqui. Na verdade, eu me recriminava por não saber falar com Ele.
Aquela tarde, depois de meses sem tentar uma aproximação, estava eu sentada diante do computador, buscando uns cursos compatíveis com minha carreira. Casualmente ou causalmente, abri uma página diferente. Antes de tudo, me apareceu um logotipo laranja que, com letras grandes, anunciava: “Entendes o que lês?”. A curiosidade se tornou minha aliada e eu quis, por um momento, ver o que era aquilo. Tratava-se de um seminário teológico que convidava a manejar a Bíblia e a entendê-la. Depois de uns minutos, fechei a página convencida de que aquilo não era de meu interesse. No entanto, o estímulo havia acendido uma pequena chama em algum lugar escondido de meu coração. Dias depois, limpei a poeira de minha Bíblia, depois de anos sem utilizar, ainda que a olhava com certo receio, pois até então só era um livro a mais entre os muitos que eu apenas havia parado de ler. Deixei-a no escritório, dedicando-lhe, de vez em quando, alguma olhada rápida. Perguntava-me se na verdade não seria Ele quem estava chamando o meu coração.
Acabei me matriculando naquele seminário. De alguma maneira a leitura começou a me prender, a me cativar, ao passo que me converti em uma leitora atual e livre. Aprendi então que é necessário ler as Escrituras para além de onde foram escritas. Percebi que o texto não se esgota em si mesmo, mas que há muito mais atrás e à frente de cada frase; muito mais daquilo que ele me confronta e me faz refletir. Que me dá liberdade para ir para além do caminho predeterminado. Que me convida, amavelmente, a buscar novos caminhos, talvez difíceis de alcançar, mas que me dão a certeza de que vale a pena percorrer.
Ruth Carlino
1.3.09
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