21.3.09

A excomunhão é uma bênção

Eu tentei ser excomungada oficialmente. Juro por Deus. Foi uma idéia de minha amiga Nina Lemos. Numa segunda-feira qualquer, não mais inquieta do que o normal, Nina entrou na redação da Tpm e, antes mesmo de pegar o café, me fez o convite: “Quer ser excomungada comigo?”. Era tentador, embora eu nunca tivesse pensado a respeito. “Claro”, respondi. E ela imediatamente começou a ligar para igrejas (assim com minúscula mesmo) para saber como fazer para se livrar da culpa de termos sido batizadas.

Pelo que me lembro, depois de muito tentar falar com um padre sem conseguir (eles são, naturalmente, muito ocupados) Nina encontrou uma boa alma que resolveu dedicar um tempo ao próximo – no caso, ela. Quando explicou o que queríamos e por que queríamos, o padre disse: “Ah, sua amiga é gay? Então ela já está automaticamente excomungada”.

E meu mundo caiu. “Mas eu quero um ritual de excomunhão! Eu pago!”, gritei. “Conforme-se, você não vai ter um”, respondeu Nina. “A Igreja já faz questão de não ter você em seus cadastros de almas”.

Nunca fiz o teste para saber se meu dinheiro seria ou não aceito pela igreja católica para que ela me excomungasse em um ritual. Um dia, talvez, tenha saco para entrar em uma igreja, superar o arrepio em meu corpo toda vez que entro em uma (sempre em respeito a algum amigo, ou amiga, que ainda usa o estabelecimento para casar) e abrir a carteira em nome da divina excomunhão. Por enquanto, me basta saber que já saí dessa. E pelo motivo mais nobre: ser quem sou.

Por que mesmo gostaria de fazer parte de uma organização em que estupradores são bem-vindos e homossexuais não? Valha-me deus.

Mas hoje minha revolta com o catolicismo já nem é tão grande. Acho que perdi o ímpeto para criticá-lo porque ele mesmo está tratando de descer ao inferno sozinho. É como aquele jogador que, de tão ruim, não precisa nem de marcador durante o jogo: esse, a natureza marca.

Na verdade, vibro todas as vezes que algum dos representantes da igreja católica dá declarações como a desse padre (bispo ou coisa que o valha. Não sei a respeito das fardas da instituição) pernambucano que disse que abortar era pior do que estuprar. Fico realmente feliz quando ouço uma estupidez desse nível. Feliz porque é bom ver a verdade vindo à tona – e pela boca de homem de batina. Aí, é melhor ainda. Parece que, finalmente, a natureza está tratando de marcar a igreja católica.

E começo a sonhar com o dia em que a humanidade alcançará um nível de desenvolvimento espiritual que permita a todos distinguir entre a declaração diabolicamente abobada de um padre e a justiça cósmica. Nesse dia, o catolicismo terá sido enterrado – e isso sim será divino.

Que a igreja fique com seus estupradores e pedófilos. Que os abrigue em seus altares de mármore, que dedique a eles missas e liturgias em latim. Enquanto isso, nós, os que fazem sexo sem querer reproduzir, os que usam camisinha, os que amam pessoas do mesmo sexo, os que não vão à missa nem amarrados, os que acham que uma menina de nove anos pode e deve tirar o feto que foi resultado de um estupro feito por quem deveria protegê-la ficamos do lado de cá.

Aliás, ficamos do mesmo lado daqueles que comem moluscos (no Levíticos 11:10 está escrito que eles, os que comem o molusco, são uma abominação), dos que trabalham aos sábados (o Êxodos 21:7 diz quem trabalha aos sábados deve ser morto e talvez a igreja, ocupada com tantas ações judiciais movidas por vítimas da pedofilia de seus padres, esteja se esquecendo de matar esses caras) e dos que aparam a barba (que, segundo determinação do mesmo livro, também devem ser assassinados). É nóis.

Porque tem ainda o seguinte. Se amanhã um maluco decidir matar alguém que não aparou a barba ou que trabalhou no sábado, esse cara está automaticamente absolvido pela igreja católica, mãos dadas com o pedófilo e com o estuprador. É por isso que eu oro: incluam-me fora desse time, pelo amor de Deus.

Milly Lacombe, no Blônicas.

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5 comentários:

Anônimo disse...

Também, quero um ritual de excomunhão da minha igreja evangélica.

Mas por outros motivos. Acho os pastores uns bo#tas, não quero ir para o mesmo céu que eles. Não aguento mais ouvir testemunho de milagre, acho tudo falso e mentiroso. Ando puto da vida com gente que negocia com pecado, diabo, inferno, maldição, dever de ser santo. Não tolero ouvir sobre cura interior, louvorzão, curso de capacitação para liderança espiritual. Tenho vontade vomitar quando me falam de estratégias para ganhar o mundo e converter muçulmanos.

Chega! Preciso que os apóstolos de plantão me cortem, considerem um herege ou me tratem como pagão.

Anderson Gonçalves disse...

Eu acho que algumas pessoas ainda não sabem o que é liberdade, né anônimo. E outras são tão estúpidas quanto estes padres que disseram estas besteiras, pois gastam seu tempo escrevendo postagens tão bestas quanto, em seu blog. Afinal, blog é isso tmb, né. É pessoas achando que ao postar uma matéria estão se mostrando ao mundo como um idealista revolucionário. Tolas ilusões. Se você que postou esse comentário inútil ai pensa que deve ser expulso de sua igreja por estar se rebelando, acho que é porque ainda não te disseram que você pode tomar a decisão de sair dela a hora que quiser e por si só. Não precisa por melância na cabeça e sair gritando aos sete ventos que quer ser ex-comungado, embora eu nunca tenha havido falar em ex-comunhão em igreja evangélica. O mesmo para a autora do texto, que não deve ter ouvido falar que não precisa se passar por ridículo pra sair da igreja. Ninguém é obrigado a ficar nela. Fica quem quer.
(tudo bem, vão moderar meu comentário. Mas disse o que penso, e não me arrependo)

JOELSON GOMES disse...

Que a ICAR tme todso os seus problemas não é novidade, como tb as evangelicas, e as "evangelicas" que mais crescem nesse país nem se fala. Mas isso não me dá o direito de dizer que é tudo farinha do mesmo saco, fazer as interpretações toscas da moça da postagem, e em prol de uma pretensa liberdade pra viadagem, sair falando da igreja sem fazer distinção. Um erro não concerta o outro.

Cíntia Rojo disse...

Coitado do português... tsc-tsc-tsc

Anônimo disse...

Ficar calado do que falar merd*. Talvez a Milly Lacombe não se lembrou disso ao elaborar este texto. Pra começar: por que ela queria ser excomungada? Que peso que ela poderia sentir com o batismo se há tempos não seguia a religião católica? Que babaquice. Bom, deixa pra lá porque tem gente aí que concordou e ainda por cima quer “excomunhão” da igreja evangélica que freqüenta, como se houvesse alguma obrigação legal de seguir essa ou aquela religião. Mas, pior, ao meu ver, foi a conclusão: a crítica que ela fez, resumidamente, foi sobre o comentário infeliz do padre que falou que o aborto é pior do que o estupro, pois aquele tira uma vida. Concordei com a critica por ela feita até então. Porém, olha como ela termina o texto: “Se amanhã um maluco decidir matar alguém que não aparou a barba ou que trabalhou no sábado, esse cara está automaticamente absolvido pela igreja católica, mãos dadas com o pedófilo e com o estuprador.” Como o tal “maluco” da hipótese por ela levantada pode ser absolvido pela igreja quando, a própria, afirma que o assassinato de um ser vivo, em qualquer circunstância, é um pecado que gera excomunhão? De boa, errar comentários futebolísticos dá até para aceitar, agora, querer criticar o que não conhece é um erro grosseiro. Isso me lembrou do problema que ela teve ao criticar o Rogério Ceni sem, realmente, saber o que de fato acontecia...lembram-se? Qualquer coisa, façam uma pesquisa no youtube. Abraços!!!!
Gabriel Vieira.

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