1.3.09

Filosofia – insegurança, poesia e inutilidade

A filosofia não responde a nada, pois está em sua gênese perguntar. Por isso, esta disciplina, mais do que qualquer área do saber, está ligada à crítica. Sua criticidade, no entanto, tem a ver mais com a paixão do que com o controle do saber. Na verdade, aqui não há aporia, já que a filosofia suporta a convivência de paixão e razão. Ainda assim, é preciso pensar mais na possibilidade do risco do que da segurança, pois estamos falando de lugares que não são seguros.

Afinal, o que é saber? A própria tradução de filosofia como “amor pelo saber” merece consideração cuidadosa. Os radicais gregos “filos” e “sofia” poderiam significar outra coisa também. Lembremos que “filos” é, antes de tudo, “aquilo que é próprio”. Por sua vez, a palavra “sofia”, na sua origem, dizia respeito ao saber do poeta, portanto, a um saber específico, diferente de qualquer saber. Nada melhor que a expressão “o que é próprio do poeta” para definir o significado de filosofia.

Sendo a filosofia o saber do poeta, filosofar está entre as atividades mais “sem lenço e sem documento” do planeta. Aliás, não queiramos encontrar utilidade nas artes. Não cabe à arte o labor de triunfar. Se há um triunfo para o artista, este é, segundo Fernando Pessoa, “quando ao ler suas obras o leitor prefere tê-las e não as ler”. Este é seu maior triunfo. Isolar os outros, incitando-lhes o desejo de estarem sós. A arte impõe a obrigação de estar isolado. Como isso é verdade para quem mergulha na arte filosófica de encarar as questões mais profundas de nossa existência!

Felipe Fanuel

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