Dois recentes casos – o da excomunhão dos envolvidos no aborto da menina pernambucana e do afastamento do padre Luiz Couto de suas atividades eclesiásticas em decorrência das declarações controversas às da doutrina católica -, suscitaram o debate em torno do conservadorismo ainda defendido pela Igreja Católica em contrapartida à realidade de seus fiéis.
Nas duas situações, o posicionamento da Igreja causou grande polêmica. Dom José Cardoso Sobrinho excomunhou a mãe e a equipe médica que realizaram o aborto de uma menina de 9 anos, que foi violentada por seu padrasto e acabou grávida de gêmeos. Sem considerar os riscos que a menina corria, Dom José afirmou que cumpria uma lei católica.
No caso do padre Luiz Couto, Dom Aldo di Cillo Pagotto o suspendeu do uso de Ordem até que se retrate em público sobre declarações feitas por ele em uma entrevista, na qual defende o fim do celibato, o uso de preservativos e o combate à discriminação de homossexuais. O padre é também deputado federal e atual presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minoria (CDHM) da Câmara dos Deputados.
Em entrevista ao Brasil de Fato, o frade domicano Frei Betto fala sobre os dois casos e explica como o conservadorismo da Igreja Católica contribui para um afastamento de seus fiéis. Segundo ele, os casos “demonstram a dificuldade de a Igreja Católica se adaptar à realidade atual”.
Brasil de Fato - Como o senhor avalia a posição da Igreja Católica frente a estes dois recentes casos, da excomunhão (por Dom José Cardoso Sobrinho) pelo aborto da menina de 9 anos e do afastamento do padre Luiz Couto (por Dom Aldo Pagotto) por suas declarações controvérsias ao pensamento conservador católico?
Frei Betto: Penso que demonstram a dificuldade de a Igreja Católica se adaptar à realidade atual. Comparo a atitude do arcebispo de Olinda e Recife com a de Jesus diante da mulher adúltera... Que diferença! Jesus foi capaz de compreender, perdoar, acolher. Os médicos agiram corretamente, para salvar a vida da menina e evitar o risco de três mortes. E manifesto todo o meu apoio ao padre Luiz Couto, de quem sou amigo e admirador.
Dessa forma a Igreja se afasta da realidade vivida pelas pessoas atualmente?
Sim, a Igreja fica encastelada em seu principismo abstrato, sem considerar o que a teologia chama de "moral de situação", a partir da realidade concreta. Assim, os fiéis buscam outras denominações religiosas, onde se sentem mais acolhidos pela compaixão, o perdão, a misericórdia divina manifestada através de seus pastores. A cada ano a Igreja Católica perde, no Brasil, 1% dos fiéis.
Para um católico, o que representa a excomunhão?
A exclusão da instituição eclesiástica e da participação em seus sacramentos, jamais a ruptura com Deus e com o próximo.
As mudanças propostas por Luiz Couto fazem parte de um debate estabelecido por muitos segmentos da sociedade e da própria igreja. O senhor acredita que a polêmica em torno de seu afastamento, pode contribuir para que essas propostas ganhem mais força?
É bom esclarecer aos leitores que o padre Luiz Couto foi suspenso de ordens - proibido de celebrar os sacramentos - por defender o fim do celibato e da discriminação aos homossexuais, bem como o uso de preservativos. Acho que ele está coberto de razão. A Igreja teve apóstolos casados, como Pedro (Jesus curou a sogra dele), e sacerdotes casados nos primeiros séculos. A vocação ao sacerdócio não coincide necessariamente com a vocação ao celibato. Quanto à homossexualidade, defendo que é uma tendência natural do ser humano e, como tal, deve ser respeitada, e não discriminada ou condenada como ocorria em sociedades patriarcais, machistas, como as que estão espelhadas no Antigo Testamento. E concordo com o cardeal Arns quanto ao preservativo: é um mal menor frente à epidemia que leva à morte milhões de pessoas.
E como a Igreja deveria se posicionar?
Sempre em favor da vida e do amor, como o que une um casal do mesmo sexo.
De que forma a Teologia da Libertação contribui para as mudanças na forma de se praticar o cristianismo da Igreja Católica?
A Teologia da Libertação faz uma nova leitura das fontes da revelação cristã, como o Bíblia e a tradição da Igreja, assim como fizeram Santo Agostinho, no século 4, e Santo Tomás de Aquino, no século 13.
fonte: Agência Brasil de Fato
dica da Marília Camargo Cesar
11.3.09
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2 comentários:
Creio que de um lado - por mais ortodoxo que pareça, devemos fazer a leitura de sempre: ir no e para o original. Aí reside o primeiro problema (ou obstáculo).
Uma cosmovisão cristã já endereçava isso, a partir do Sermão do Monte. Qualquer movimento que se diga cristão - sem ter piedade como marcada é no fundo uma caricatura. E não escapa ninguém e nenhuma bandeira desse crivo radicalmente bíblico.
A outra questão é sem dúvida a miopia evangélica que em muito imita a postura de papistas. Taí uma dica pra uma postagem bem evangelical: Nós também "habemos Papa!"
Faz voce ou faço eu, Pava?
perfeito, volney.
vai que é tua! =)
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