A avó olhou o sexo da criança e sentenciou.
- É menina... Torce o pescocinho e joga no açude para os peixes comer.
A outra mulher paupérrima que havia ajudado no parto teve dó.
- Dá pra mim.
A história é verídica. Essa menininha que nasceu no sertão nordestino sobreviveu, tem 48 anos e mora no Rio de Janeiro. Eu a conheço. Por que a quiseram eliminar? Ela explica: "Menina naquele tempo pouco ajudava... só servia para ser prostituta e fazer mais menino". Seus dois irmãos de pais diferentes, por terem nascido machos, foram criados pelas famílias paternas; um deles, filho de um filho de fazendeiro arcaico e o outro, filho de um pequeno comerciante. Eles largaram os pais-patrões que os espancavam e migraram para o Sul.
Aqui no Rio, a ex-menina e os ex-meninos acabaram se encontrando; comeram o pão que o diabo amassou para criar suas novas famílias. Felizmente suas crianças tiveram chance de estudar e começam a mudar o rumo de suas vidas. A menininha sobrevivente hoje é mãe solteira de uma bela moça que trabalha numa multinacional, estuda inglês e informática. Ela confidencia com o olhar emocionado: "Aprendi a me dar valor. E valorizei minha filha. Não culpo o homem porque ele nasce da mulher".
Histórias parecidas continuam a se repetir por este mundo redondo muito mais do que se imagina. As diferenças básicas têm a ver com costumes culturais, tradições, tabus, religiosidade, segredos de família ou política de Estado. Mas talvez dê para afirmar que no século XX a maioria das mulheres tomou consciência de si, se libertou como ser pensante, atuante e produtivo.
Epa! Será isso mesmo? Minhas avós analfabetas e pobres não eram burras nem ociosas. As avós delas também não. Sabiam lidar, na sua classe social, com os homens e a sociedade do seu tempo. Huum. Não, não há espaço aqui para essa discussão. Importante é registrar que no Brasil as mulheres conquistaram na Constituinte a igualdade jurídica em quase todas as áreas.
Ah, tem o pós-feminismo de Camile Paglia. Em entrevista à Veja (25 de fevereiro), ela fala do dilema terrível quando as mulheres aspiram a ter filhos e carreira. Um dilema que não afeta os homens porque "a natureza escolheu deixar o enorme fardo da gravidez para as mulheres". Para mim, "fardo" é uma questão de ponto de vista. Por um outro lado, Camile não vê que para novas mulheres há novos homens, que sabem cuidar bem dos filhos. Há o equilíbrio de reconhecer de quem é a vez, momentânea, de provedor ou de administrador da casa. Dela ou dele. Ou reconhecer que é dos dois; com ajuda das avós, da babá, da creche ou de ninguém. A dinâmica da família ocidental contemporânea depende da infraestrutura doméstica, do momento econômico, político... E existe a ciência do planejamento familiar. OK. Também é uma questão de cultura.
Os yanomamis, por exemplo. Fiz algumas reportagens sobre eles. Duas delas (1976 e 1983) numa floresta da serra do Surucucu, em Roraima. Lá constatei que as yanomamis solteiras, as yanomamis casadas que ainda amamentavam um outro filho, as yanomamis que davam à luz gêmeos ou as que davam à luz um bebê com alguma deficiência física praticavam o infanticídio. Nos dois primeiros casos o sertanista Francisco Bezerra e sua mulher, que viviam no posto da Funai e falavam o idioma indígena, se ofereciam às índias para ficar com a criança. Mas havia antropólogos que condenavam Bezerra por salvar os indiozinhos marcados para morrer.
E nos outros dois casos? No nascimento de gêmeos (quando só devia sobreviver um) ou de uma criança deficiente, não tinha jeito. A mãe yanomami tomava a decisão no momento imediato após o parto; estrangulava o recém-nascido e o enterrava. O que jamais acontecia quando uma criança morria naturalmente na aldeia, onde os mortos eram sempre incinerados. Costume da tribo. Ainda é assim? Não sei.
Neste momento, só sei que gravidez não é para meninas de 9 anos.
Ateneia Feijó, jornalista e escritora, no Blog do Noblat.
infelizmente, ainda é assim. aqui podemos relembrar a história de hakani, enterrada viva pelos pais.
10.3.09
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
02/12/2006 - 19h13
Menina estuprada de 9 anos é mãe mais jovem do Peru
LIMA, 2 dez (AFP) - Uma menina de nove anos deu à luz um menino neste sábado, fruto de um estupro, em um hospital público de Lima, informou o ministro peruano de Saúde, Carlos Vallejos.
O bebê nasceu com 2,520 kg e 47 cm e apresenta dificuldades respiratórias. Por isso, permanece na UTI.
A mãe precoce receberá ajuda psicológica, e seu filho terá toda assistência de que precisar, ressaltou o ministro Vallejos, após visitá-la.
"Ela permanecerá no hospital todo o tempo que for necessário até que seu filho e ela estejam em perfeitas condições", declarou.
A garota foi vítima de abuso sexual de um primo de 29 anos, em um povoado pobre da província de Pachitea, no departamento centro-andino de Huánuco.
O caso comoveu o Peru, quando sua gestação foi revelada em setembro passado, tornando-a a mãe mais jovem do país.
Fonte: UOL
http://noticias.uol.com.br/ultnot/afp/2006/12/02/ult34u169397.jhtm
Parece que o ministro do Peru tem mais esperança que o nosso presidente.
Postar um comentário