As formas não são tudo. Apesar de sua simetria, toda forma clama por uma substância, por uma essência não visível, por uma, digamos, ideia. Aliás, Rafael Sanzio (1483-1520), artista italiano do período renascentista, já dizia que pintava a partir de “uma certa ideia”. A beleza é, neste sentido, um ideal; ela habita a imaginação. De modo que ao pintar um nariz, pintava-se um nariz que não se podia encontrar na face de ninguém, pois este nariz era dependente de uma ideia específica.
A pintura torna-se mais do que tinta e pincel. Está para além da própria técnica artística. Obviamente, isso não exclui o rigor do trabalho artístico. Por causa desta “certa ideia”, a obra de arte só pode nascer de uma profunda reflexão, calculada de maneira minuciosa, para que seja alcançado o exato sentido artístico.
Por outro lado, nosso mundo, quer dizer, este mundo em que estamos hoje, é um mundo de formas. Vivemos encantados com formas retilíneas e curvilíneas que se apresentam diariamente em todos os lugares, expondo-nos a um padrão de beleza formal. A geometria dominou a arte. Não se fala em essência, porque tudo que é abstrato faz parte de um mundo nada interessante. Parece que não passou pela cabeça de ninguém ainda que a linha reta é simplesmente algo impossível de se obter. Tudo o que temos é uma ilusão de que há uma reta, mas a reta jamais será reta por mais perfeita que se pareça ser sua trajetória linear.
Ilusão? Ou uma “outra ideia” nada “certa”?
Felipe Fanuel
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12.4.09
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