"Em tempo de guerra, a verdade é tão preciosa que ela precisa ser guarnecida por uma escolta de mentiras".
Winston Churchill, 1916
Era uma vez uma moça muito inteligente chamada Verdade. Toda vez que a Verdade chegava perto das pessoas, elas fugiam. Algumas até diziam preferi-la sempre à sua prima biscateira, a Mentira, comentavam como a Verdade era magnífica e necessária, mas ficar por perto? Não, não.
Então, certa noite, a Verdade sentou-se sozinha e desanimada em uma calçada. E antes que algum passante mais atrevido sugerisse um programa (quem não gosta de apertar, torcer e fornicar com a Verdade?), uma senhora corcundamente idosa aproximou-se.
- Por que você está tão triste? - perguntou Dona Sabedoria.
- Ninguém gosta de mim. - chorou a Verdade.
A velha mediu a Verdade dos pés à cabeça, fez uma pausa e cravou:
- Mas também, olhe para você, veja só o seu estado...! Lastimável!
A bem da verdade, a Verdade não estava lá essas coisas. Talvez por acreditar que apenas sua luz interior fosse suficiente, ela nunca havia se preocupado muito com a parte de fora. O vestido sujo maltrapilho, o penteado dreadlock e aquele perfume estilo Moscas Ardentes, do Bosticário, não eram realmente sedutores.
- Vamos fazer uma coisa? Vou lhe apresentar uma amiga - aconselhou Dona Sabedoria.
- Tenho certeza de que ela poderá lhe dar umas dicas.
E Dona Sabedoria e a Verdade foram até uma casa de massagem gerenciada por uma cafetina chamada Riqueza. A Riqueza era, por assim dizer, o bicho: por mais que ela se escondesse e esquivasse, os homens sempre estavam atrás dela - e algumas vezes por cima e por baixo também. A Riqueza, sem dúvida alguma, sabia das coisas.
- Eu não entendo... - questionou a Verdade, olhando com desdém para a Riqueza.
- Você é fútil, volátil, passa de mão em mão sem criar laços, não cultiva respeito ou sentimentos. Afinal, o que os homens vêem em você?
- O que eles vêem em mim, querida? - disse a Riqueza, colocando o indicador com 3cm de unha postiça vermelha no canto da boca.
- O que eles não vêem em você, eu lhe digo. Mal acabada desse jeito, nem o inquilino do viaduto vai lhe dar uma cantada. Mas eu já sei o que fazer: vou lhe emprestar um vestido meu, que é fatal. Tiro e queda, meu amor. Ele se chama Parábola.
E desde então, a Verdade tem conseguido se aproximar dos homens travestida de Parábola. A parábola não assusta, é engraçadinha e permite que a Verdade dê sua opinião. Entretanto, é só marcar aquela esticada no motel e tudo recomeça: ainda não existe um remédio para evitar o terror na frente da verdade nua e crua. A resposta para isso, nem mesmo a Sabedoria ou a Riqueza parecem ter...
Dr. Alessandro Loiola
Médico, escritor e palestrante. Autor de, entre outros livros, "Para Além da Juventude - Guia para uma Maturidade Saudável" (Editora Leitura).
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