Celebro a mim mesmo e canto a mim mesmo,
E o que eu assumo tu o assumirás
Pois cada átomo que a mim pertence, pertence também a ti.
Walt Whitman
Para muita gente, Natal é tempo de sentimentos contraditórios. Não exatamente o “dia do Natal”, mas o “Natal-época”: mistura de lembranças distantes, cheiros, imagens borradas de parentes mais velhos, saudosismos, ruas e lojas cheias, eventuais pisões no pé, evaporação do 13º salário, pequenas ganâncias e estranhas mesquinharias familiares. Dezembro chega e muita gente respira fundo, lá vai começar a maratona. Isso para não falar das centenas de papais noéis espalhados por aí, frangos hipertrofiados assando em fornos de padaria e a invariável pancada de chuva perto das onze da noite do dia 24 , aquela que faz todo mundo correr.
Há ”Natais” diferentes. Alternativos por força das circunstâncias. Quem já passou uma temporada internado ou trabalhando em hospital sabe o tamanho da estranheza que causa estar tão perto da dor e da apreensão de quem não pode sair.
Eu mesma me lembro de alguns plantões agitados na UTI nas noites de Natal ou do Ano Novo, quando, de certa forma, tudo lá fora se tornava desimportante, tanto para pacientes quanto para os médicos. Ou, ainda na graduação, das inúmeras salas de parto em véspera de ano novo no Amparo Maternal , onde as guloseimas festivas resumiam-se apenas a pão doce e café com leite. Frios.
O que quero dizer é que datas só têm o significado que imprimimos a elas. Gente que não gosta de algumas celebrações, em geral, as associa a perdas ou situações desagradáveis e outras atribulações.
Conheci uma família que se negava a comemorar o Natal em uma espécie de protesto que ora pendia para um nacionalismo anti-tradições européias, ora para uma religiosidade que julgavam livre de símbolos supostamente pagãos, como árvore, bolas, presentes. Era uma “pureza ideológica” antisséptica e assustadora.
O que também quero dizer é que as datas são convenções que, afinal, espelham quem somos. Os superficiais se contentarão com encontros sociais de final de ano e pequenas aparências. Os sociopatas evitarão gente a todo custo.
Os amorosos procurarão estar com quem amam. Quem normalmente se doa invariavelmente estará em algum orfanato, asilo, instituição, fazendo o que sempre faz.
Penso que o que define nossas datas são nossas próprias escolhas. Ninguém é obrigado a estar contente ou triste por tradição, trauma, ‘carma’ ou ’destino’. O bom da vida é poder escolher e decidir, assumindo as mudanças, secando as lágrimas e ousando ir além.
Helena Beatriz Pacitti, dezembro 2009
Um comentário:
Pava, estou passando nos blogs amigos para desejar um natal de felicidade e simplicidade, do Deus que se fez simples por nós, justamente para que pudessemos re-encontrar o caminho da simplicidade da vida e com isso termos novamente plenitude que provém do Pai.
Paz e bem
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