26.4.10

Precisa-se de redator

Meu primeiro emprego em propaganda foi numa agência paulista chamada Silvestre Publicidade, do Grécio e do Oston Silvestre, na Major Sertório. Era especialista em anúncios classificados e eu devo ter sido o primeiro datilógrafo com “redação própria” da história da empresa. Meus colegas, de fone de ouvido e diante de velhas Olivettis, recebiam por telefone os ditados dos clientes para as centenas de anúncios classificados que chegavam o dia inteiro para que a agência enviasse ao Estadão, Folha ou Diário Popular. Uma verdadeira máquina de fazer dinheiro.

Eram 20% de comissão a cada telefonema, sem desconto, sem leiaute, sem pesquisa, sem discussão. Daria minha vida para ser dono de uma empresa daquela. Sem contar que o preço do classificado era proporcionalmente caríssimo. E o Estadão tinha o maior orgulho em tratar os anunciantes a ferro e a fogo. Digo mais: os anunciantes tinham o maior orgulho de serem tratados olimpicamente pelo jornal. Tenho guardado até hoje uma entrevista com o diretor comercial do Estadão, José Maria Homem de Montes, publicada na Revista Propaganda, onde ele dizia que o jornal não possuía representantes comerciais (“contatos” no jargão da época). Simplesmente porque “nada havia para se discutir entre o departamento comercial as agências e anunciantes que já não estivesse impresso nas tabelas de preço”.

Cada vez que eu leio me arrepio de emoção. Havia um ponto curioso na tal tabela. Era um preço diferenciado para anúncios em língua estrangeira. Eu nunca entendi porque ficava mais caro imprimir e distribuir algo em outra língua que não fosse a portuguesa. Me contaram que era porque anúncio em língua estrangeira tinha que ser enviado a tradutores especializados. Tudo para que não se repetissem anúncios como um famoso “Redator em Inglês” que (parece) foi redigido por um empregado despedido, cuja última tarefa foi exatamente procurar seu sucessor.

O anúncio em inglês era assim: Copyriter. Multinational is looking for a copywriter fluent in English. Able to write letters, memos, ads. Excelent salary. 5 days week. Candidate will have to deal whith a boss that is a motherfucker son of a bitch. Ignorant, bad manners, vicious lier and is constantly farting. If you really need money write to this paper. Do it in Portuguese because the asshole doesn’t know a word of English. Letters to SHIT JOB care of this paper.

A tradução mais ou menos livre: Título: Redator. Texto: Multinacional procura um redator com inglês fluente. Capaz de redigir cartas, memorandos, anúncios. Excelente salário. Semana de 5 dias. O Candidato terá que lidar com um chefe que é escroto e filho da puta, ignorante, mal educado, mentiroso compulsivo e que peida constantemente. Se você realmente precisa de dinheiro, inscreva-se. Faça isto em português porque o babaca não conhece uma palavra em inglês. Cartas para EMPREGO DE MERDA aos cuidados deste jornal.

Em tempo: minha função, na altíssima categoria de possuidor de redação própria, era acudir aos clientes que eventualmente não conseguissem escrever um classificado. Melhor começo impossível. Desde o primeiro dia aprendi que anúncio serve para dar resultado.

Aliás, o tal classificado em inglês provocou verdadeira enxurrada de propostas. Assim é a vida.

Lula Vieira, no Propaganda & Marketing.

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