9.5.10

Pastor metralhadora

Para alguns, ele é conhecido como o pregador mzungo (homem branco). Para outros, é um bad boy regenerado. Talvez o nome de Sam Childers entrará para a história apenas como o "pastor metralhadora". Mas para as pequenas crianças do sudeste do Sudão que correm risco de morte ou de se tornarem escravos pelas mãos do grupo rebelde "Exército de Resistência Lord", ele é sinônimo de salvação.

Sam Childers sequer concluiu o ensino médio, tendo começado a usar drogas aos 11 anos de idade, metendo-se em mais brigas que é capaz de lembrar. Este homem problemático, que muitos consideravam uma causa perdida, cresceu numa família cristã, mas o envolvimento com drogas, sexo e violência consumiram muitos anos de sua juventude e parte da sua vida adulta. Porém, a constante oração da sua mulher, Lynn, cristã desde 1987, ajudou a levá-lo a Cristo em 1992.

“Creio que a maior coisa que as pessoas precisam saber não é até que ponto fui no passado. Não interessa o que alguém era. A única coisa que interessa é o que se pode fazer para alterar o amanhã,” disse Childers durante uma entrevista. E acrescentou, “Penso que se eu pude mudar, qualquer um pode mudar.”

Esse ex-motociclista, que chegou a andar com os Hell's Angels, hoje percorre o território conflituoso do Sudão de arma na mão. O perigo espreita em cada esquina e a todo o instante. Seu espírito guerreiro de sempre continua o mesmo nesta nova luta que abraçou, mas de um modo diferente. “A diferença é que hoje eu luto pelas crianças e famílias que Deus me enviou para proteger.”

Sacrificando a vida confortável que tinha nos EUA, esse pregador incomum passou a maior parte dos últimos dez anos no sudeste do Sudão e no nordeste de Uganda. Ali fundou a aldeia de crianças Anjos da África Oriental, um orfanato cheio de crianças que ele resgatou dos ataques mortais do Exército de Resistência Lord (ERL), liderado por Joseph Kony.

Sam escreveu sua história no livro Another Man’s War: The True Story of One Man’s Battle to Save Children in the Sudan, que em breve deverá virar um filme estrelado por Gerard Butler (de 300) e Michelle Monaghan (de Controle Absoluto). (Veja matéria aqui)

Sua biografia descreve cenas terríveis dos ataques do ERL. Numa aldeia, ele recorda “o fedor intenso de carne humana queimada” e os gritos que ouvia dos feridos. Viu também uma mulher jovem ficar ensopada no próprio sangue ao ter o peito cortado pelo machado de um soldado. Em outros ataques, os soldados do ERL queimaram pessoas vivas e as forçaram ao canibalismo. Fizeram inclusive crianças matarem as próprias mães, pois do contrário seriam mortas. As crianças capturadas com vida são forçadas a unir-se ao ERL, servindo como soldados infantis, escravas sexuais, ou carregadoras de cargas e continuarem aterrorizando aldeões no sudeste do Sudão e nordeste de Uganda.

Childers sentiu-se obrigado a usar armas para defender as crianças, dando origem a seu apelido. Ele diz ser contra a violência, mas afirma que não se pode deixar que as crianças sejam estupradas e assassinadas. “Ajo em auto-defesa, procurando proteger as crianças”, afirme. "Não sou um assassino. Não gosto de machucar ninguém. Mas estas pessoas têm de ser paradas. Você ficaria indiferente se visse alguém fazer mal a uma criança?”

Desde 1988, o ministério de Childers distribui cerca de 2.400 refeições por dia. A aldeia que contruiu tem dormitórios, uma escola de ensino fundamental, creche, clínica, campo de esporte e uma igreja. Seu trabalho na África libertou mais de 900 refugiados de todas as idades, e mais da metade são crianças que foram capturadas pelo ERL.

“Com toda certeza um pregador normal, com formação universitária, nunca poderia fazer o que faço”, afirma Childers em seu livro. “Se eu tivesse morrido antes, certamente teria ido para o inferno,” admite o ex-usuário e traficante de drogas. “Mas quando me rendi ao Senhor, um novo plano entrou em ação, e nasceu um novo ministério.” Ele fez sua primeira visita ao Sudão em 1998 como voluntário para um projeto de construção dirigido por um ministério cristão. Mas a injustiça e necessidade desesperada que viu durante a viagem prendeu o coração de Childers e levou-o a decidir dedicar toda a sua vida para ajudar as pessoas do sudeste do Sudão. Lynn e Paige, a filha do casal, tem apoiado Childers em seu ministério, mesmo passando longos períodos longe dele.

“Sim, eu fui duro e mau, tendo causado uma série de prejuízos quando era incrédulo. Mas essa dureza e maldade prepararam-me para sobreviver num ambiente hostil onde poucos pregadores poderiam ir e voltar vivos,” escreve Childers no último capítulo do livro. “Deus endureceu-me e treinou-me para ser seu instrumento no sudeste do Sudão e em Uganda. Não sou um pastor normal. Sou um soldado, membro do Exército Cristão de Libertação do Povo. Eu ando armado. Luto pela liberdade. Jesus disse: 'Agora, porém, quem tem bolsa, tome-a, como também o alforje; e o que não tem espada, venda a sua capa e compre uma.' [Lucas 22:35-38] Jesus não condenava a violência. Mas se alguém pegar o seu filho e eu dissesse que podemos trazê-lo de volta, o que você diria?”

O vídeo abaixo mostra um pouco da realidade de Sam no Sudão (há cenas fortes)



4 comentários:

Márcio Rocha disse...

não faltariam palavras que condenariam a atitude do pastor, porém, diante do horror da guerra, e dos absurdos inconcebíveis cometidos a mulheres e crianças, quem pensaria o contrário?

Desculpem-me a sinceridade!

Dio disse...

Muito pelo contrário Márcio, não há palavra alguma que o condene...

Chicco Salerno disse...

Salmo 45:3,4

Dgstz! disse...

Essa história é parecida com a história Deacons for Defence, sobre a armada formada por diáconos negros dos EUA que protegiam sua congregação contra a KKK. Tem até um filme que fala sobre issae.



Mesmo com as palavras de não violência de Cristo, acho que é o que se tem a fazer quando crianças são raptadas e forçadas a se tornarem monstros no futuro.

Break the Curse! Desfaça as obras do inimigo, nem que seja na porrada...

Blog Widget by LinkWithin