Existe na igreja uma preocupação muito grande de capacitar e treinar líderes pastorais e missionários. É uma preocupação legítima visto que muitos pastores e missionários tiveram uma preparação acadêmica e técnica deficiente e também porque, como em todo campo do conhecimento, existe a necessidade de reatualização e aprofundamento, isto é, de uma educação contínua.
No entanto, na maior parte do tempo, os programas de treinamento e capacitação são baseados em técnicas seculares para aprimorar habilidades, aumentar o desempenho e maximizar os resultados. Ou seja, um conceito de mercado. A proposta e a linguagem destes programas é, geralmente, distante do projeto de Jesus de Nazaré.
Com isto, corremos o risco de ver uma geração de pastores eficientes no domínio de técnicas de gerenciamento, marketing e formação de equipes vencedoras, mas, com uma vida espiritual precária.
O resultado pode ser visto na vida de inúmeros líderes bem sucedidos no público, e que camuflam suas crises espirituais, existenciais e emocionais, familiares e financeiras atrás do ativismo e de discursos elaborados.
Treinamento de líderes através de técnicas seculares é uma idéia secular. É muito bom para equipes de vendas, para gerentes de negócios, para atletas. Treinar é também um conceito aplicado a animais. O próprio conceito de líder ou liderança é estranho às Escrituras que afirmam que quem quiser ser líder seja o último e aquele que serve, que afirmam ainda que Deus usa pessoas fracas sobre as quais o seu poder se manifesta.
Se procurarmos o equivalente no ensino de Jesus Cristo teremos que falar então de formação de servos através do exemplo e da amizade.
Treinamos líderes para serem bem sucedidos e por outro lado formamos servos para se doarem sacrificialmente e desinteressadamente, cuja motivação primária é servir aquele que os enviou, independente de sucesso ou resultados. Esta é uma diferença básica entre os dois conceitos, o primeiro oriundo das técnicas de admistração de recursos humanos das grandes corporações e o segundo inspirado na vida e no ministério de Jesus de Nazaré.
A formação dos discípulos de Cristo acontece no campo missionário, nas estradas empoeiradas de Israel, em contato direto com pessoas perdidas e necessitadas, com baixo custo. Já treinamento de líderes, em geral, acontece em ambientes refrigerados de bons hotéis, com apostilas bem preparadas, preletores acadêmicos, exposições com data-show e participantes com seus crachás coloridos e seus note-books. O custo é elevado e o financiamento geralmente oriundo do exterior.
O critério de avaliação pastoral é a curva de crescimento numérico da igreja e seu desempenho como gerente de bons programas e como motivador de pessoas. Isto gera uma enorme crise de vocação para aqueles que resistem ao modelo do mercado, a igreja de resultados, de rápido crescimento de audiência e faturamento.
Mesmo assim tenho grande respeito por homens e instituições que se dedicam a treinar líderes no contexto de igreja evangélica. Gostaria muito de vê-los integrando mais a dimensão espiritual, pois muitos dos nossos pastores já não sabem mais ler a Bíblia devocionalmente e tampouco orar para se relacionar intimamente com Deus. E tendo chegado onde estão já não sentem mais a necessidade de continuar crescendo na dimensão da transformação do caráter através do quebrantamento e da confissão. Tornam-se pessoas isoladas, sem amigos do coração, resistentes à exortação e rodeados de seguidores deslumbrados.
Carecemos de homens e instituições que se dediquem a ajudar homens e mulheres separados para o ministério, a resgatar o sentido da vocação, da intimidade com Deus através da leitura bíblica e da oração, e a andar na contramão resistindo às tentações e ao fascínio das técnicas seculares de liderança.
Existe uma diferença fundamental entre investir em pessoas fornecendo ferramentas para o sucesso no ministério e a formação de servos quebrantados.
Que o Senhor tenha misericórdia de nós e nos ajude a discernir a diferença entre o cristianismo que gera homens e mulheres que buscam servir com santidade e sacrifício e o capeta-lismo que gera líderes religiosos vaidosos, ambiciosos e endinheirados.
Osmar Ludovico da Silva, autor do livro Meditatio.
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colaboração: Ezequiel Viriato
3.9.07
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