13.1.08

Mentir é editar a vida

No varejo ou no atacado, quase todos nós já fomos ou continuamos incorrigíveis Pinóquios. Pequenas mentiras ou mentiras sinceras sempre nos caem bem como uma calça de tergal de brechó. Não carecemos nem citar aqui a sociologia, as estatísticas ou os grandes cronistas de usos e costumes. Vale lembrar, no entanto, que a mentira tem pernas curtas sim, mas são lindas e bem torneadas como as das pequenas sereias e outras mulheres lendárias do cinema.

Todos cometemos o pecado ou o deslize da mentira, uma forma talvez de editar, montar nossos próprios filmes, adequar a vida às nossas conveniências. Mas há uma diferença considerável entre homens e mulheres nesse capítulo. Ora, as fêmeas não mentem simplesmente, elas têm o dom de iludir, coisa mais sofisticada, como na canção de Noel Rosa. Os machos, coitados, simplórios, abusam amadoristicamente deste recurso tão natural quanto a água e o óleo de peroba.

É isso mesmo, até os melhores exemplares da raça masculina cometem as suas trapaças, dissimulações, subterfúgios, maquiagens na cara de Mr. Hyde da quase sempre insuportável realidade. Do presidente da corte superior ao trombadinha. A diferença é que uns ainda coram, enquanto outros não estão nem aí para as faces infestadas por bandeirosos cupins.

Todo esse lero-lero tão-somente para dizer que folheei dia desses, na espera do dentista, “101 mentiras que os homens contam _e por que elas acreditam” (ed. Ediouro), da norte-americana Dory Hollander, um clássico da psicologia barata. Aliás, nem no dentista foi, o fato deu-se no consultório do homeopata, quer dizer, no analista, digo, no proctologista...

Minto. Comprei mesmo o livro no sebo, por dever de ofício, e o devorei, olhos de traça. Que mentira que lorota boa, seu escriba de meia tigela, seu Zelig, que fica inventando desculpas para as leituras mais vagabundas.

Dane-se, comprei, folheei, não li direito mas gostei pacas. E quer saber, é um clássico da psicologia popular universal. Está para a fofoca de salão como “A Interpretação dos Sonhos” [de Freud] está para a psicanálise. São frases que podem ser ditas tanto em Manhattan como no sertão do Crato. Dona Hollander fez uma pesquisa séria, DataPinóquio, sobre nossas mentiras e nossas piores promessas.

Vai de um inocente "estou cansado demais" a um irresponsável "eu te amo" _dito na hora errada à mulher errada, no lugar errado”. Começo, meio e fim e a nossa cuca ruim, como na canção do príncipe Ronnie Von. Por que elas acreditam, então? Tentaremos decifrar o enigma no próximo texto. Inté logo mais.

Xico Sá, no Blônicas.

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