4.4.08

Pragas apostólicas

Um edifício de sete andares, sede da Direcção Nacional de Investigação Criminal de Luanda, onde habitualmente estão detidas pessoas que vão a julgamento, desabou no passado dia 29 de Março, cerca das 04:00 locais (03:00 em Lisboa), provocando a morte a 29 pessoas que morreram esmagadas debaixo dos escombros.

De acordo com um comunicado oficial da Igreja Maná, estamos perante um castigo de Deus: o desabamento do referido edifício foi a forma de Deus punir o Governo angolano pela interdição causada à igreja Maná em Angola (e vá lá agora saber-se o porquê dessa interdição, quando tantas outras igrejas têm liberdade de associação e de culto...).

O referido comunicado chega mesmo a publicar e endossar uma opinião que dá conta do seguinte: «Quem se mete com o nosso Apóstolo, está a meter-se com um Moisés. Então ele ora e Deus manda pragas». E ainda: «Enquanto o Faraó perseguir os crentes, as pragas do Egipto não vão parar».

O assunto é sério: estamos diante de um exercício vergonhoso de aproveitamento religioso. Se o aproveitamento político – aquele de que os políticos tantas vezes lançam mão em desespero de causa – é imoral e repreensível, o aproveitamento religioso é ainda pior – é vergonhoso!

Do que se trata aqui é da descaracterização da natureza de Deus – uma falsificação de Deus, um deus criado pela Igreja Maná! – em benefício da causa particular e mesquinha de um senhor que se quer fazer passar por poderoso na terra… e que manda no céu! E é imoral, abjecto vir aproveitar-se da morte de 29 pessoas inocentes, capitalizando essas mortes a seu favor.

Estamos perante o grau zero da ética, mas o mais grave é o facto de tal comportamento vir de um líder religioso, formador de atitudes e mentalidades. É preciso estar toldado por interesses pessoais obscuros, para atiçar desta forma o sentimento de ódio religioso e acicatar a sede de vingança cega, sem ter a luz e a lucidez para medir as consequências. Perante estes factos, considero estarmos diante de um incitamento velado ao tumulto e à guerra religiosa.

A ideia a fazer passar é a de que com o denominado Apóstolo da Igreja Maná não se brinca: se alguém se lhe opõe, ele faz umas orações, Deus manda umas pragas e mata indiscriminadamente. Assim, sem mais nem menos. Mesmo que não mate quem alegadamente lhe fez mal (neste caso o Ministro da Justiça de Angola), mata quem calhar – mesmo que sejam inocentes e alheios à briga! Estamos perante um caso grave de arrogância e prepotência.

E estou indignado! Também eu sou cristão evangélico e o Deus que penso conhecer não mata inocentes só para vingar as derrotas e acalmar as birras do senhor Tadeu – nem de ninguém! A Igreja Evangélica, garanto-vos, não se revê nesta forma de manipulação e utilização de mecanismos de intimidação e vingança, cujo objectivo não é outro senão o de provocar a obediência temerosa e submissão acéfala e acrítica do rebanho.

Entrar nestas subjectividades e especulações é perigoso…imagine que alguém se lembrava de dizer que o desmoronamento do referido edifício tinha sido causado, afinal, por um acto de vingança política de alguém contra o Governo angolano…

Luís Seabra Melancia, no blog Re-ligare.
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colaboração: Rubinho Pirola

O amigo do Estevam Hernandes surtou de vez...

Um comentário:

Anônimo disse...

Concordo em "gênero, número e grau". DEUS ABENÇOE ANGOLA.

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