2.6.08

Os pecados da mídia

Se há assunto sobre o qual se lê, ouve ou vê muito pouco são as críticas à mídia. Este é o calcanhar de Aquiles da imprensa moderna – ou, melhor dizendo, da mídia, pois já faz tempo que a indústria da informação não se limita ao equipamento inventado por Gutenberg e em razão do qual estamos festejando um bicentenário, no Brasil.

Têm relativa sorte, os donos da mídia, de que os maiores inimigos da sua liberdade são os econômica e politicamente poderosos – que desejam calar os seus veículos para poderem melhor exercitar seus desmandos e falcatruas sem serem denunciados. Nesses embates, restam poucas dúvidas sobre com que lado está a razão ou a justiça. Liberdade de expressão em todo o mundo e – em particular – no Brasil, significa quase exclusivamente liberdade de expressão para a imprensa, ou a mídia.

E, no entanto, até mesmo nos veículos mais liberais – não lhes citarei os nomes, mas são os principais jornais e revistas do país – são raríssimas as cartas contendo críticas dos leitores que passam pelo crivo da redação e chegam a ser publicadas...

Mas, do que se acusa a mídia? De diversas coisas: algumas delas são digressões de intelectuais marxistas tardios e desavisados, mas algumas são sérias. Há grandes probabilidades de que você não tenha lido nada na imprensa (claro!) a respeito de três livros publicados este ano – em inglês – no Canadá, EUA e Inglaterra e que devem estar ainda longe de ser traduzidos e lançados no Brasil.

São: Risk: The science and politics of fear (Risco: A ciência e a política do medo) de Dan Gardner; Panicology de Simon Briscoe e Hugh Aldersey-Williams e Flat Earth News: An Award-Winning Reporter Exposes Falsewood, Distortion and Propaganda in the Global Media (Notícias da Terra Plana: Um repórter premiado denuncia as falsidades, distorções e a propaganda na Mídia Global) de Nick Davies.

O primeiro expõe a curiosa tese de que a humanidade nunca teve tanta saúde e segurança e, no entanto, vive atormentada por um medo irracional e crescente, que tem conseqüências fatais, como as 1.595 pessoas que morreram em acidentes automobilísticos, nos EUA, por evitar viagens aéreas de medo de serem alvos de atentados terroristas.

O segundo mostra como são, muitas vezes, baseadas em estatísticas ridículas, espúrias e até mentirosas, as calamidades com que a imprensa bombardeia as pessoas – na Inglaterra – sobre vacinas, o medo de ficar gordo e morrer antes da hora, de que as grandes empresas engulam seu negócio, da gripe aviária... O simples risco de estar vivo é cada vez mais alarmante.

Finalmente, o autor do terceiro foi um jornalista premiado que desistiu da profissão e acusa os veículos de querer transformar a população em uma massa de ignorantes, divulgando notícias sensacionalistas e mentirosas e plantando ficções distribuídas pela CIA...

Artilharia pesada, talvez nem sempre judiciosa ou imparcial. Mas certamente seria mais saudável que todos tivessem mais acesso às críticas a quem detém a liberdade para criticar – mesmo legítima.

J. Roberto Whitaker Penteado, no jornal Propaganda & Marketing.

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Um comentário:

Anônimo disse...

Até que enfim alguém teve coragem de dizer que a mídia cria conceitos e manipula o mercado e o mundo através de matérias pagas para servir a interesses ocultos.
Tem muito mais aí do que sonha a nossa vã perspicácia.

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