27.8.08

A Estética e a Liturgia

Milhões de telespectadores, em todo o mundo, puderam assistir maravilhados a beleza plástica da cerimônia de encerramento das Olimpíadas de Pequim. Uma demonstração da capacidade criativa e da sensibilidade humana diante da beleza. Para os chineses, a Estética é representada por dois ideogramas: beleza + pensamento.

Os gregos apenas sistematizaram o que os povos de todos os tempos e lugares sentiram; o que Deus orientou na construção e decoração do Templo de Jerusalém; o que a Igreja Cristã, iniciando com os símbolos e gestos nos seus primórdios, e elaborando através dos séculos, representou o sagrado além das meras palavras. Para os cristãos do Oriente, o espaço sagrado e a liturgia nos devem conduzir a uma antevisão da glória.

Ficamos, contudo, pensando na pobreza estética do Protestantismo Brasileiro, seus templos com cara de lojas, seus ritos com jeito de reunião e aula, seus ministros vestidos como vendedores ou políticos, jogando fora (e se empobrecendo) dois mil anos de acervo estético da Cristandade.

No Império, por força da Lei, éramos proibidos de edificar templos com símbolos. A carência financeira nos impediu de maiores elaborações estéticas. Mas, foi a construção de uma identidade por antagonismo (em relação à Igreja de Roma) que nos fez, lamentavelmente, confundir o todo católico (histórico e universal), patrimônio cultural de todos os cristãos, com o Romano. Esquecidos das belas construções e das adequadas vestes dos ministros protestantes de outros países.

Diante da fome estética da nossa gente, diante das “quatro paredes caiadas e um sermão”, parte-se para uma imitação do judaísmo ou para o culto-espetáculo, brega/chique, que promove mais a vaidade humana do que a glória de Deus. Enquanto isso a ideologia agressiva do Secularismo pós-moderno vai proibindo os símbolos religiosos, e toda expressão do pensar religioso da esfera pública, com a “colaboração” dos inocentes úteis cristãos informalistas, casualistas, iconoclastas.

A Primeira Reforma (Luteranos e Anglicanos) partiu do princípio de que toda construção multissecular do Cristianismo – inclusive na Estética – deveria ser mantida, desde que não contrariasse os ensinos das Sagradas Escrituras. O radicalismo anti-histórico, antiestético e anti-litúrgico de manifestações posteriores do Protestantismo se constituíram em uma perda para a Arte Sacra e para a beleza na adoração: uma Liturgia com conteúdo e forma.

Uma nova geração educada e sensível de evangélicos pode recuperar a Estética cristã histórica dentro dos parâmetros doutrinários reformados. Os de dentro das Igrejas seriam edificados; muitos dos de fora seriam atraídos. Nós, os Anglicanos, que sempre valorizamos a Estética e a Liturgia, estamos disponíveis para emprestarmos a nossa modesta colaboração nessa tarefa tão necessária.

Deus não é apenas o Sumo Bem, mas, também, o Sumo Belo!

Robinson Cavalcanti, Bispo Diocesano.

Leia +

2 comentários:

Anônimo disse...

Com ou sem estética os reis estão nus.

Unknown disse...

Querido Robinson, sou seu admirador de muitos anos, mas por favor, não queira confundir a cabeça dos crentes brasileiros já tão confusa por tantas invencionices da modernidade. De que parte da BÍBLIA você tirou esta idéia de Estética Liturgica? Desculpa irmão, mas este seu argumento é uma proposta ao retrocesso. É um atentado à simplicidade proposta por Jesus e seus apóstolos. Até o criador de Indiana Jones foi sensível à esta simplicidade ao mostrar o Santo Graal. Como é que ficaria os mihares de cristãos ao longo da África que mal mal tem uma tapera para cultuar ou os milhares que o fazem de baixi de uma árvore. Como ficaria os cristão dos tempos das catatumbas de Roma e os da velha China de Wacthman Nee? Uma digressão por outras realidades no mundo, mostrará que estas edéias de estética são frutos de uma mente encharcada por conceitos burgueses e elitizados. Prefiro ver templos com cara de lojas, mas, com a liberdade de expressão do sacerdocio universal dos santos do que os templos suntuosos com pouca ou nenhuma expressão da vida do corpo. Prefiro ver pastores com roupa de vendedor ou pescador, mas onde o Espírito Santo exerça sua liderança do que as roupas extravagantes e sem sentido onde o Espírito Santo é apenas uma figura decorativa. De novo, desculpa querido Cavalcanti, não é nada pessoal, mas agradeço sua oferta de coolobaração para melhorar a estética da igreja. O problema da Igreja Brasileira não tem a ver com estética, mas, sim com algo muito mais sério que você sabe muito bem. Deixe sua convicções estéticas apenas para o seu Anglicanismo Refinado. Já temos invencionices de sobra. Abraços!

Blog Widget by LinkWithin