7.9.08

Aprendendo com Adélia

O meu prazer nos poemas da Adélia Prado está na forma com que ela vê as coisas do dia-a-dia. A perplexidade diante do comum, do ordinário, a surpresa em relação às ocorrências aparentemente mais bobas da vida.

Algumas coisas só comprovamos quando vivemos determinadas experiências. Estar longe de casa é uma destas experiências que me fizeram comprovar que a Adélia sempre esteve certa no seu jeito de ver a vida.

Morando bem longe da minha casa, fico me recordando de como coisas tão singelas eram tão saborosas. E daí me bate aquela saudade danada. Meu coração pulsa mais forte e meus olhos ficam marejados. De peito apertado, posso dizer que tudo me faz muita falta.

Tudo o quê? Bem, posso começar pelas manhãs. Ah, as manhãs em minha cidade são fresquinhas (diferente das manhãs aqui no Mato Grosso), o sol entrava vagarosamente pela janela do meu quarto e ainda assim eu me deliciava com o frescor do dia que nascia. E a bagunça da vida em família?... Ah, até isso era bom. Hoje vivo só numa casa enorme, e mal posso esperar pelo dia em que voltarei a ter contato com o fuzuê da vida familiar cotidiana. O calor do abraço dos pais, a voz suave da minha mãe me dizendo “boa noite!” antes de dormir e até mesmo as briguinhas bobas que surgem vez e outra. Tudo isso eu quero outra vez.

E a comida?! Não encontrei ainda por essas bandas alguém com uma mão tão acertada para a cozinha quanto a de meu pai. Acho que se juntou tudo: o amor pela culinária, o dom da mineiridade, aquele gênio todo disciplinado, e pronto... saiu-me um chefe de cozinha de mão cheia. E agora quem sofre sou eu, que acabei muito mal acostumando com aquela comidinha maravilhosa.

Ah, a feira de domingo, o sotaque da roça, o jeito caipira de conversar encontrado em todos os lugares que eu fosse, a pamonha saborosa, o pastel de farinha de milho que só encontro lá em Pouso Alegre; e, claro, não posso deixar de lado o delicioso virado de banana com queijo. Bem, a vida é assim mesmo! É cheia de partidas, rupturas, dores e saudades. Por isso eu pretendo seguir adiante como Adélia Prado e aproveitar as coisas mais bobas dos meus dias onde quer que eu esteja. E isso pra que mais tarde eu não me arrependa profundamente por não ter desfrutado da vida.

Sim, sou grato a Deus por cada momento que vivi até aqui, e sei que provei cada dia com alegria, que tentei aproveitar de tudo da melhor forma possível. Minha saudade não tem fraguimentos de remorso, não! Ela não é reflexo de quem deixou a vida passar e não desfrutou dela. Minha saudade é apenas desejo de retorno, esperança fervorosa reencontros.

Esse é meu conselho: não deixem de ler Adélia Prado e de aprender com ela as melhores formas de viver o dia!

Beto Ramos, no blog Visão Integral.

Leia e veja +

Nenhum comentário:

Blog Widget by LinkWithin