7.9.08

Pelo amor de Deus!

Já tantas vezes ouvi o eco da voz de Deus em músicas ditas “não-cristãs”, que se tornou natural, quando ouço algo novo é como se estivesse lendo um versículo desconhecido da bíblia. Hoje, estava na aula de violão e um episódio me tocou um pouco. Estávamos ensaiando, para esta aula, a música “Samba da Bênção” do Vinícius e do Baden.

Uma das estudantes levou uma música evangélica, pois, na aula anterior, o professor havia pedido que levássemos músicas que conhecemos e que gostaríamos de aprender a tocar. Evidente que ela é evangélica.

No Conservatório de MPB daqui de Curitiba existem muitos alunos que são evangélicos. Na minha turma de canto também têm mais uma aluna, que eu sei. O ocorrido foi que, prontamente ao saber que ela era evangélica, o professor perguntou se ela não tinha nenhum problema com a música “Samba da Bênção”.

Quem conhece a versão ao vivo da música entende o que ele quis dizer com isso. Ele mesmo enunciou, “Há um certo sincretismo na música, ela fala sobre orixás...” e assim por diante. Depois disso ele relatou, com um certo receio na voz, que já tivera problemas com alunos evangélicos que se recusaram a tocar esta música. Os motivos que eles alegaram não importam para o que vou dizer.

Eu sinto um certo pesar quando ouço falar este tipo de coisa, a forma como os evangélicos se comportam diante da cultura geral. É uma preocupação das mais sinceras, talvez, a que leva a este tipo de atitude. Ainda se eles soubessem dizer coerentemente as razões que os movem a agir desta forma. Mas incorrem num duplo erro: tomam atitudes precipitadas e grosseiras diante das pessoas, e depois se complicam para dizer os motivos de agirem daquela forma e não de outra. E acabam sendo vistos como no fim são vistos. Pior ainda é o fato de acreditarem que as pessoas continuam se convertendo porque estas práticas são sinal de “bom testemunho” dos cristãos; como se a graça de Cristo não soubesse passar por cima dessas coisas para atingir as pessoas também.

Quero pensar um pouco, se os senhores me ajudarem, na natureza e nas implicações de um fenômeno como este. Quer dizer, é evidente que a atitude de Cristo diante da cultura é completamente diferente da que tomam os evangélicos. Mesmo em situações muito menos ambíguas, onde as práticas pecaminosas são evidentes, a atitude de Cristo sempre foi mais branda do que a evangélica. A diferença essencial é que Jesus, ao contrário dos evangélicos, não tinha medo, mas amava. E como bem diz João na sua primeira carta “o amor lança fora o medo”.

Quero dizer que por mais que a preocupação seja sincera e tal, o medo é irracional e gera atitudes como estas. Os cristãos têm medo, como os antigos judeus tinham, da contaminação cerimonial ou da contaminação ritual. E a atitude de Cristo diante desta atitude dos fariseus, sim, era dura e repreensiva. Quer dizer, essa é a atitude que está em jogo na parábola do bom samaritano.

Quando os cristãos julgam “prudentemente” que não devem escutar este tipo de música, que não devem se envolver com este tipo de gente, que não devem fazer isso ou aquilo, estão agindo como os fariseus que lavavam as mãos sete vezes até o antebraço antes das refeições, mas não cuidavam dos leprosos, não se preocupavam com a injustiça social e não amavam o próximo.

Como bem sabemos a parábola do bom samaritano era dirigida abertamente à eles e suas atitudes, e agora: à nós. E é por isso que eu sinto um enorme peso no coração quando vejo essas atitudes, pois a igreja evangélica, na sua maior parte, resolveu seguir o exemplo dos fariseus e saduceus ao invés do exemplo de Cristo.

Uma outra semelhança entre os fariseus e os cristãos hoje em dia é que, da mesma forma como os fariseus eram em geral bem vistos dentro da cultura judaica, os cristãos que possuem estas atitudes são bem vistos dentro do geral da cristandade ou, no mínimo, dentro da comunidade da qual participam. Mas para os que não são cristãos, bem, todos sabemos como eles entendem tudo isto. Exatamente o oposto da imagem que Cristo têm no meio do povo, apesar do papel que fazem os cristãos.

Ou seja, além de sermos pecadores como todos os outros, ainda temos a arrogância e a estupidez de afirmar que sabemos como se “peca menos”. Convenhamos que é um papel ridículo!

Por fim, deixo que Deus fale com vocês através de uma música com uma metáfora pervertida. Aquele que têm ouvidos para ouvir, ouça!

, no blog Os decadentes.

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Um comentário:

Alice disse...

é impossível não aprender algo novo aqui !


bjkas pra vc

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