Àqueles que insistem na percepção aclamada de que revogo a religião, peço a gentileza de se afastarem da visão estreita do Muro da Separação. Pelos devidos motivos que afloram aqui palavras certamente inortodoxas, a interessante relação amistosa entre conservadores e liberais (como irmãos de sangue, que abraçados esmurram a si próprios) jaz póstuma e tida como factual ausência de produção filosófica - um fato por mim muito explanado.
Por isso não me interessa, exemplarmente, a eliminação da institucionalização religiosa, sequer fincar espetos nos ímpetos e corações dos ditos conservadores e liberais: a realidade irredutível da instituição religiosa percorre a história do cristianismo como percorre a tentativa de eliminação dos conceitos libertários de Jesus Cristo.
Tenho então o problema: o termo “liberal”, que se conhece obviamente pela cadência às teses esquerdistas, invadiu as frestas do desconhecimento auto-afirmativo na pós-modernidade, assim como no conservadorismo a dissimulação da realidade se tornou uma arte suprema, quase divinamente estabelecida por critérios apadêuticos.
O muro que separada esses dois amigos é derrubado se com marteladas dá-se o ultimato da decadência a ambos os movimentos. Seria um posicionamento independente? Desconheço.
Porém ao ler o texto de um líder cristão, o qual participou de uma maratona no “mundo imperial”, é que me faço complexado em colocar novamente o coletivo como fundamento da ignorância e o individualismo uma tendência pessoal conservadora (um antagonismo aos evidentes conservadores religiosamente coletivistas). O tal é uma referência esquerdista, de bela retórica, mas amparado pelo desconhecimento do cristianismo libertário que predomina nas arquibancadas do cristianismo; com palavras bem colocadas, que emocionam os incautos e deprimidos, têm-se a fórmula da estupidez travestida em irresponsabilidade intelectual.
O que falta essencialmente ao conservadorismo ortodoxo é a reformulação de sua literatura, portanto. A escrita esquerdista é apaixonante, redondamente fantasiosa como contos de fadas em que pelos tróculos de personagens consegue-se o objetivo final; assim caminha toda e qualquer influenciação literária, que não subsiste sem o ardor da identificação própria.
Afirmar ou negar a ortodoxia religiosa e estudar o reacionário pensamento são posições individualistas, mas que se refletem no coletivo. Se Bonhoeffer é citado pelos conservadores como um personagem de sabedoria cristã notável, não se assume que sua tese fundamental é antiortodoxa e alheia aos conceitos principais da teologia. Com essa brecha no Muro da Amizade, a imbecilidade se confirma belamente quando a leitura força os meus olhos a lerem que o tal escritor era um referente… liberal.
Em quais dos panos piso? Simplesmente jogo-os fora. Ambos representam a gênese da ruína do evangelho.
Filipe Liepkan, no blog O Templo Felpo.
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19.10.08
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