29.11.08

Neuroses eclesiásticas (4)

Na política, não queremos envolvimento (e muitos que o fazem são um péssimo exemplo, buscando apenas vantagens para si próprio). Das questões sociais, movimentos e reivindicações, queremos distância. Parece que temos medo do engajamento.

A bem da verdade, esses fenômenos não são privilégio da igreja, mas acontecem em escala ainda maior e igualmente doentia na cultura secular, em nossa sociedade “pós-moderna”, que, como ensina o Dr. James Houston, descobriu que estávamos sendo enganados por nossos heróis e nos jogou num caldeirão indiferenciado, onde tudo e nada têm praticamente o mesmo valor. Aqui, porém, tal qual no Apocalipse, vamos começar o julgamento pelo povo de Deus.

Uma área que pode exemplificar isso: a música. No meu trabalho tenho contatos com estúdios de gravação profissionais, músicos e técnicos de som; não são muitos, mas são muito bons no que fazem. Perguntei a esses amigos músicos seculares o que eles achavam das nossas bandas Gospel. Eles, com muito jeito para não me constranger (sabiam que eu era evangélico), responderam que os músicos tocam muito bem, têm boa técnica, mas que a música parece “sem alma”. Certinha, tecnicamente perfeita, mas sem alma.

Acho que é um bom retrato das nossas vidas: procuramos fazer tudo certo, da melhor maneira possível; mas, por alguma razão, não tem muito sabor, não tem muita vida. (E nós pregamos e cantamos que Jesus veio para que tenhamos vida, e vida em abundância...). Talvez por isso sejamos acusados de hipócritas, de não-autênticos. Mas isso também não é verdadeiro: olhamos
para dentro de nós mesmos e sabemos que não estamos querendo enganar ninguém.

Não é nossa intenção “fazer de conta” que somos espirituais. Corremos para Deus em oração, pedimos-lhe para sondar nosso coração, e sabemos que oramos com sinceridade. Mas nossa vida continua da mesma forma. Estamos preocupados, queremos acertar em tudo, pedimos a direção e ajuda de Deus, prestamos atenção nos sermões ou profecias, freqüentamos a igreja, mas nossa vida segue “pasteurizada”, meio viva, meio morta. A igreja não muda isso, e parece que ela até reforça essa “pasteurização”. Há algo errado, e isso merece uma investigação.

Karl Kepler, psicólogo, pastor e teólogo.

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