2.11.08

Nós nos odiamos

Estou cada vez mais convencido de que pessoas não gostam de pessoas. Não gostamos uns dos outros. Nosso semelhante nos causa repulsa. Fazemos de tudo para ficar longe de todos. Pagamos a mais por exclusividade, fazendo questão que o menor número possível de pessoas se aproxime. De prerência, que ninguém chegue perto.

Compramos carros não porque podemos nos deslocar mais rápido (dentro das cidades não podemos mesmo), ou porque realmente precisamos deles. Compramos porque é ruim ficar tão perto de gente nos coletivos. Compramos casas com terrenos amplos não porque precisamos de espaço, mas porque um apartamento é muito cercado de pessoas.

Quando somos adolescentes queremos um quarto próprio. Quando trabalhamos queremos uma ilha bem pessoal. Quando nos tornamos chefes queremos sair de perto dos colegas para uma sala grande e isolada. Quando estamos frustrados queremos ficar sozinhos.

Para alguns de nós, as diferenças sociais são motivos suficientes para se roubar o semelhante, assumindo até a possibilidade de matá-lo caso se oponha. Para outros de nós, não é necessário sequer diferença alguma: furta-se descaradamente quando já se tem o bastante.

Muitos animais se encostam, se aquecem e se tocam. Já nós nos evitamos. Fazemos de tudo para manter o outro longe. Entendemos o contato físico como uma aproximação sexual. Há tão pouco toque mútuo entre seres humanos que muitos ficam excitados com o resvalar de alguém do sexo oposto, ou se sentem constrangidos com um abraço.

Há animais que se reconhecem cheirando um ao outro. Já nós detestamos nosso cheiro natural. Gastamos o dinheiro de um mês de refeições em perfumes. Obviamente, o bom cheiro das fragâncias que as pessoas usam serve geralmente para atrair parceiros sexuais em potencial, não para se tornar agradável ao semelhante. Ou seja, pouca aproximação que existe é por conveniência ou satisfação própria.

Nós nos odiamos. E não são apenas guerras e atentados que demonstram isso. Nosso cruel cotidiano nos mostra com clareza que a humanidade não é uma espécie, mas um caótico amontoado de indivíduos que se detestam.

Teo Victor, no blog Um bicho de Rondônia.

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