Se “reevangelizar” significa semear o evangelho uma segunda ou terceira vez, parece não haver ferramenta melhor que a internet para disseminar com insistência e ubiqüidade. A proliferação de novos canais de comunicação - assim como a facilidade de acesso a esses canais - cria um ambiente que predispõe a formação, erudição e até persuasão dos usuários. Todavia, a mera democratização da informação nem sempre produz como resultado uma sociedade mais bem informada, pois dificilmente conseguimos valorizar a informação bruta que chega sem referência de veracidade, relevância ou contexto.
Uma das características observáveis numa população que compõe uma sociedade midiática que se familiariza com a internet é sua crescente inclinação para questionar toda informação que não possua comprovação de credibilidade.
Por este motivo, a quantidade maior de canais de comunicação e o acesso mais amplo das pessoas a esses canais não representam “a priori” um poderoso novo palco para a exposição da história ou da natureza do evangelho. As oportunidades existem, sim, mas apenas para os mensageiros dispostos a observarem as mais novas regras do jogo e a constatarem como as pessoas percebem e consomem aquilo que realmente faz diferença em suas vidas.
Os portais estão sendo desafiados por maneiras novas de validar conteúdo e de estabelecer credibilidade. No passado, bastava a utilização de uma marca conhecida - “brand” de editora, revista, jornal, órgão do governo ou website. Hoje a validação pode ocorrer de formas diferentes: popularização via “buzz marketing” ou quantidade de hits no website, de visualizaçãoes no YouTube, de amigos no Orkut, MySpace ou Facebook etc.
As novas tecnologias que facilitam a criação e distribuição de conteúdo sincronizam perfeitamente com os preceitos relativistas do pós-modernismo. Assim, o desafio do cyber-evangelista é aprender a respeitar as limitações técnicas e ideológicas das novas mídias e ao mesmo tempo comunicar uma visão bíblica da realidade. Como pode um indivíduo - uma pessoa física sem acesso privilegiado aos “gatekeepers” tradicionais ou eletrônicos - usar as vantagens das novas mídias e tecnologias para evangelizar com eficácia e disseminar uma cosmovisão bíblica sem alienar-se daqueles que pretende alcançar?
É necessário respeitar os parâmetros e as regras do jogo de cada formato. Convivência e familiaridade com cada ambiente precede qualquer tipo de estratégia de comunicação. É necessário também compreender as pressuposições pós-modernas abraçadas por muitos que transitam pela web. Não precisamos comprometer nossas convicções, mas é necessário buscar um diálogo inicial respeitando os termos da cosmovisão alheia até ganhar o direito de ser ouvido. Devemos procurar o diálogo, conscientes das limitações que cada mídia e formato impõem.
O contato e a estratégia de comunicação devem pressupor e aceitar a natureza peculiar de cada canal, pois é difícil fazer com que um internauta siga o interlocutor para outro formato. De acordo com David Hackett, diretor da Internet Evangelism Network, “Qualquer que seja o canal que as pessoas usem quando respondem - telefone celular, e-mail, Skype ou carta [...] - é essencial manter-se nos parâmetros deste mesmo canal. Se você mudar o canal ou método de contato, os interlocutores normalmente fogem. E não há como segurá-los. Pela internet, você não sabe quem são. Os vínculos são efêmeros e podem evaporar instantaneamente. É importante manter-se no canal de contato inicial até que o próprio interlocutor sugira um canal mais conveniente”.
No Brasil os evangélicos são percebidos por muitos internautas como reacionários, inflexíveis, ultrapassados e intransigentes. Infelizmente esta noção é reforçada diariamente por televangelistas e políticos evangélicos, e pelas ações de líderes e denominações oportunistas. Precisamos tomar todo cuidado para minimizar esta percepção para sermos mais eficazes no propósito de levar a luz de Cristo para aqueles que transitam pela web. A igreja evangélica brasileira é caracterizada mais pelas divergências do que pela união. Não há uma única voz que fale pelo grupo maior. Há discordâncias importantes entre denominações no que diz respeito a doutrina, liturgia, vida cristã, costumes pessoais dos membros, disposição de trabalhar com outros grupos evangélicos, envolvimento com política, e filosofia de acolhimento da cultura maior.
Mesmo assim, a maioria dos grupos que compõem a igreja valoriza a Bíblia como a Palavra revelada de Deus. Embora haja divergências importantes, esta aceitação da Bíblia diferencia os cristãos daqueles que crêem que a religião é apenas uma questão de escolha pessoal e daqueles que colocam o valor da tolerância acima do valor da Verdade.
Sem uma compreensão da filosofia pós-moderna, que tanto combina com a sociedade brasileira contemporânea - e as repercussões desta filosofia para todos os canais de comunicação -, as nossas tentativas de utilizar as novas mídias para a evangelização serão insignificantes.
Marshall McLuhan alegou que o meio é a mensagem. Mas para o cristão cuja causa é a Grande Comissão, qualquer meio pode conter a Mensagem.
Mark Carpenter, na revista Ultimato.
Leia +
15.11.08
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário