Estive na Espanha nessas férias e acompanhei admirado a polêmica em torno da existência d’Ele. “Deus não existe, desfrute a vida”, estampavam banners em ônibus municipais. A idéia foi da Associação de Ateus, que pagou o anúncio do próprio bolso.
O debate girou em torno do papel do Estado, já que a frase foi estampada num bem de serviço público. As prefeituras de Madrid e Barcelona defenderam o direito de livre expressão.
A idéia foi copiada de um grupo de ateus de Londres, que fez o mesmo anúncio nos ônibus locais: “God doesn’t exist”.
Imaginei a contenda que a iniciativa geraria na cidade de São Paulo, onde um candidato a prefeito, Fernando Henrique Cardoso, perdeu a eleição, pois não respondeu monossilabicamente à pergunta do provocativo jornalista Boris Casoy, se acreditava em Deus.
Basta ver o que ocorre no TJ do Rio de Janeiro. O novo presidente, desembargador Luiz Zvelter, foi censurado, pois retirou da sala de sessões um crucifixo e defendeu o caráter laico da justiça, que deve respeitar todas as religiões.
Me lembrei do Estado brasileiro, apesar de laico e democrático, e suas relações duvidosas com o poder evangélico e o rebanho de milhões de eleitores.
No mais, a dúvida pode dar em processo- como o movido por fiéis da Igreja Universal contra os jornais O Globo, A Tarde, Extra e Folha de S.Paulo, alegando que se sentiram ofendidos pelo teor das reportagens contra a Igreja.
No Brasil, o ateu se sente acuado. Cultos africanos, indígenas ou de outras religiões estão ausentes em cerimônias oficiais, em que deveriam ter um padre, um passe e uma pajelança.
Na Espanha, o Estado manteve o firme propósito de não intervir. Venceu a democracia. Perdeu a censura. E grupos evangélicos pagaram anúncios nas mesmas proporções, também exibidos nos ônibus, com os dizeres: “Deus sim existe, viva a vida com Jesus”. Não é mais justo?
ps> na verdade, diferentemente da barcelona e madrid, o slogan de londres foi: "provavelmente não existe deus". tão bom quanto.
Marcelo Rubens Paiva
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28.2.09
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Um comentário:
Quanto ao direito dos ateus divulgarem suas crenças tudo bem (Ateísmo é forma de crença também). Como dizia Nelson Rodrigues: "Não concordo com as razões do frango para cruzar a estrada, mas morro pelo seu direito de cruzá-la". Agora, achar bonito um juiz tirar um crucifixo da parede, porque o crucifixo compromete a laicidade do estado? Que que é isso? É mesquinhez, é paranóia. Desse jeito logo logo vão querer tirar o Cristo Redentor do corcovado.
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