2.3.09

Pós-Carnaval

Se malandro soubesse como é bom ser honesto
Seria honesto só por malandragem
Jorge Benjor

Somente um Carnaval, na minha vida, passei-o no Sambódromo – em 1988, em condições privilegiadas, pois fui jurado, no desfile das escolas, no quesito alegorias e adereços. A campeã foi Vila Isabel, que repetiria a façanha em 2006. A liga havia convidado mais candidatos do que as vagas, para assegurar que não haveria "pressões", e – no sorteio – ganhei do Lula Vieira.

Tive também a sorte de ficar ao lado do Marcelo Silva, outro publicitário - e bem mais competente do que eu em assuntos carnavalescos – que me ajudou na sintonia fina entre o que me parecia uma sucessão de deslumbres em espiral. Meu voto foi o último a ser apurado, o que me garantiu – na TV - aqueles minutos de fama de que falou Andy Warhol…

A reminiscência serve de justificativa ao fato de que faço parte do também substancial bloco dos que aproveitam esses feriados brasileiros para deixar a cidade e ir para as serras – e, lá, aproveitar o silêncio e os bons ares para descansar, pensar e nada fazer.

Prometera a Vanessa, assistente de redação deste Caderno, o artigo da semana para a quarta-feira de cinzas. Pensava fazê-lo sobre “a crise”, que continuava a ser o assunto do resto do mundo (que não tem a sabedoria de suspender o cotidiano para dar lugar às fantasias) no noticiário da mídia. Ouvia que a bolsa de NY despencara a um nível baixíssimo, para melhorar no dia seguinte. Lia, em Veja, os nomes dos maiores responsáveis pelo descalabro financeiro que assolou os Estados Unidos – o que me fazia lembrar da historinha, que meu avô contava, do escocês que – para economizar – foi, gradativamente, reduzindo as rações do seu cavalo até o ponto zero. Quando o bicho estava quase se acostumando, morreu.

O que, em turno, me lembrou a frase do samba de Benjor que está lá em cima. Não foi ele que a criou, claro; meu tio Dudu, fazendeiro em SP, dizia o mesmo, quase do mesmo jeito. A propósito, há um site fantástico, na internet, mantido pelo servidor Terra. Experimente. Tem todas as letras de todas as músicas do mundo, brasileiras e estrangeiras. Descobri que Jorge Benjor é autor de nada menos do que 275 composições: do A de A Banda do Zé Pretinho ao Z de Zumbi. Lá está também Noel Rosa, que – apesar da vida curta – compôs 167 músicas.

O Economist da semana do Carnaval tem um artigo curto, na página 74, revelando que “a crise econômica está provocando um surto de boas maneiras nos negócios” em todo o mundo. O que acabou me lembrando o saudoso João Saldanha, que disse, uma vez (referindo-se aos ingleses) que até em matéria de malandragem o Brasil perdia dos gringos do “primeiro mundo”. Na atividade de marketing, foi um gringo que me ensinou que aumentando 2% da água na fórmula de um produto, você aumentava em 2% a margem de lucro. Claro que, ao atingir os 100%, é tudo lucro, mas ninguém vai comprar. Como na história do cavalo do escocês.

E - nesta segunda - 2009 começa, de fato, no Brasil. Que nos possa ainda trazer luz e inspiração.

J. Roberto Whitaker Penteado, no Propaganda & Marketing.

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