“Roberto, você está arriscando toda Editora Abril por causa dessa revista...”
Gordiano Rossi, sócio e diretor da Abril nos primeiros anos de Veja
Quarenta anos passados, sei que tenho pelo menos um registro para a tal da posteridade: é no número 1 da revista Veja, no expediente, como diretor comercial, ao lado dos de Victor Civita, presidente da Abril, Roberto Civita, o editor e Mino Carta, diretor da redação – e muitos outros, claro.
Todos que me conhecem sabem que não fiz carreira como publisher e, também - os que acompanham a história das coisas -, que a revista, inicialmente, não foi um sucesso, muito pelo contrário, naqueles tempos difíceis de governo militar, censura, etc. mas – sobretudo – de um público que não sabia apreciar uma revista semanal de informação e gostava de ler Manchete - sucessora de O Cruzeiro – com pouco texto e muitas ilustrações.
Tinha 27 anos, era gerente de produtos numa multi inglesa e fui chamado por causa disso. RC queria alguém que pensasse uma revista como um produto, e cuidasse do seu marketing. Meu chefe era o Domingo Alzugaray e tínhamos como agência a Standard – ainda 100% brasileira –, cujo diretor era Julio Cosi Jr. Roberto Duailibi foi quem nos apresentou a campanha de lançamento da nova revista.
Mas, bem antes disso, tivemos uma reunião no Roof – que era como chamavam o restaurante executivo da empresa, ainda no mesmo prédio da gráfica, na Freguesia do Ó – com “seu” Victor, para decidir sobre o nome da nova revista. Até então, tinha sido apenas “a semanal”. A preferência geral recaía sobre um título: Panorama – mas que, infelizmente, pertencia a uma revista regional, editada em Curitiba, cujos proprietários não estavam dispostos a vender.
Havia outras sugestões e uma proposta do representante da área jurídica: Veja. Sua razão era estritamente pragmática: a editora era dona da marca Veja e Leia, que estava sendo considerada para denominar uma série de fascículos semanais. Ninguém gostava muito da marca Veja; mas gostava-se menos ainda de Veja & Leia... O jurídico ponderava que o uso da marca facilitaria as coisas, posto que o dia do lançamento já estava marcado.
O “seu” Victor, que nada dissera, ainda, então perguntou: - Muito bem, meus amigos, quais são as opções? Todos se entreolharam e ficou claro que só havia duas: Veja ou Veja & Leia. Assim mesmo, se fosse usar Veja – insistia o jurídico - é melhor botar e Leia, também, nem que seja bem pequenininho, para ninguém ler.
Seu Victor, então, decidiu encerrar a questão. – Já que eu tenho 51% das ações, sou eu que vou resolver. Vai ser Veja, mesmo – e vocês resolvem se põem ou não põem Leia. Diante do silêncio que seguiu, VC resolveu aliviar um pouco: - Amigos, se marca fosse assim tão importante, o carro mais vendido do Brasil não se chamaria Volkswagen. E, retirando-se: - Tratem de fazer uma boa revista, que todo mundo vai comprar, mesmo que seu nome seja Pirlimpimpim!
Foi assim que aconteceu. Asseguro.
PS.: Vea y Lea foi editada na Argentina por Emilio Ramirez, de 1946 até os anos 60; Panorama pertencia a então poderosa Gráfica Paranaense e circulou por mais de 50 anos.
J. Roberto Whitaker Penteado, no Propaganda & Marketing.
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