Como reagiriam aqueles que defendem o merchan religioso nos gramados se alguém vestisse a camiseta acima?
IMPRESSIONANTE como muita gente lê o que quer e não o que está escrito.
Fora, é claro, o preocupante analfabetismo funcional e a conhecida demagogia dos que pegam uma caroninha em tudo.
Houve quem visse tentativa do colunista em cercear a liberdade religiosa na coluna passada.
Desafia-se aqui quem quer que seja a demonstrar uma vírgula sequer neste sentido.
Reclamou-se, isso sim, da chateação que o proselitismo religioso causa em quem quer apenas ver um jogo de futebol, ao mesmo tempo em que se defendeu que cada um se manifeste como quiser nos locais apropriados.
Houve também quem não se lembrasse de ter lido aqui manifestações contra atletas que fazem propaganda de cerveja.
Para esses só resta indicar memoriol, porque não só são criticados os esportistas que fazem propagandas do gênero como, também, quem usa espaço esportivo para tal, seja ou não jogador.
E não me venha ninguém dizer que os tais atletas de Cristo são bons exemplos neste mundo de pecadores, pois basta olhar para Marcelinho Carioca e ver que as coisas não são bem assim.
E que fique claro que o colunista gosta, muito, de cerveja, assim como inveja os que creem, porque deve ser uma boa muleta para suportar as agruras da vida e para alimentar a esperança da compensação de uma vida eterna.
Posso garantir, no entanto, que nem mesmo nos momentos limites que já vivi apelei a alguma força superior que me salvasse.
E não foi para ser intelectualmente coerente.
Mas chega a ser divertido ver um político que tem crescido feito rabo de cavalo, para baixo, conhecido por sua homofobia, sinônimo de preconceito, querer dar lição de moral, como um obscuro ex-deputado federal, hoje apenas vereador, que buscou alguns votinhos adicionais ao entrar na polêmica.
Polêmica que rendeu coisa de 120 mensagens eletrônicas de leitores desta Folha para minha caixa postal, surpreendentemente a favor da coluna, coisa de 80%, embora índice compreensivelmente menor de aprovação do que nos quase 500 comentários no blog.
E aí é motivo de satisfação constatar que só a esmagadora minoria não é capaz de entender a ironia da frase "Deus prefere os ateus", usada no fecho da coluna.
Aos que pediram que a coluna se limite ao futebol, um aviso: não há nenhuma atividade humana que não possa ser relacionada ao futebol, razão pela qual o espaço seguirá sendo preenchido desse jeito.
Finalmente, uma ponderação óbvia: deixar o campo de futebol para que nele se dispute só o jogo acaba por proteger os fundamentalistas de algum herege que vista uma camiseta com os dizeres do título desta coluna, ali escritos apenas à guisa de provocação.
Já imaginou?
Seria uma delícia ver a reação dos que brandiram até a Constituição, que garante a liberdade religiosa, como se o colunista tivesse agredido seus princípios.
Juca Kfouri, na Folha de S.Paulo.
dica da Ju Dacoregio e do Jarbas Aragão
a "estratégia de evangelização" é pra lá de equivocada: não dá frutos dentro de campo e ergue barreiras do lado de fora. como perguntei a um amigo no twitter, e se o rick mostrar uma camiseta c/ um arco-íris depois do gol?
2.8.09
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4 comentários:
anjo te lançar no inferno
Tremenda bola fora do Juca!
Deus por favor bota um jogador que colcoque essa frase na camisa só pra eu ver o pandemonio que isso vai causar...
Acho que ninguém vive sem acreditar em coisa alguma, mesmo naquelas que nunca vimos ou sentimos. O Crer está intimamente ligado ao ser humano e embora algumas pessoas, se declarem ateias, elas mesmas acreditam em coisas "descabidas" como por exemplo no big-bang ou no surgimento da vida organizada a partir do nada, e são tão hostis a quem pensa diferente delas, que o digam os cristãos chineses, norte-coreanos, cubanos e não me venham aqui dizer que os religiosos fundamentalistas são fanáticos, intolerantes, radicais, irracionais e demais quejandos porque se o argumento fosse religioso apenas, estes países tolerariam um pouco, uma manifestação livre de consciência, seja ela política ou religiosa. O Profeta do ateísmo, Dawkins, disse que ser ateu torna a pessoa livre e a pergunta que teima em calar e é a mesma que vou fazer ao cronista é: o que é ser livre? Por acaso existe alguém que possa dizer que é completamente livre? Todos estão presos a alguma coisa, principalmente as suas crenças. Uns crendo que existe um Deus e procurando agrada-lo, as vezes de maneira bizarra, e outros acreditando que Deus não existe e, pasmemo-nos, lutando contra Ele –puro contra-senso lutar contra algo que não existe – tal qual Dom Quixote. Ninguém consegue viver sem crenças e o facto de querer o futebol somente para o “futebol” acaba por ser o reflexo de um sentimento de que suas crenças estão sendo invadidas pelas dos outros. E para terminar, não me incomoda que alguém exiba uma camisa com estas palavras. Por fim, me desculpe o cronista, mas não acredito que nunca tenha invocado nenhuma força superior estando em situação limite ou então sua situação limite não foi tão limite assim.
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