Lá se foi o Glauco! Triste país onde a vida vale muito pouco.
Estou muito triste nessa manhã.
Já não bastasse nessa semana, perdemos duas pessoas amigas para a violência que já está se tornando a marca desse triste país onde a vida vale muito pouco e a justiça, idem.
Não adianta aqui tecer mais comentários sobre o que já está batido, como quem bate no ceguinho. Não adianta mais falar sobre a ineficiência das nossas leis - inadequadas - e da sua aplicação e cumprimento, nem sobre o poder judiciário, tão podre quanto o poder legislativo e o executivo.
Perdemos nesses poucos dias aqui em Uberlândia, uma irmã de uma das nossas comunidades, nova, com uma filha de 3 anos, assassinada friamente diante de um bandido frio e sem noção de absolutamente coisa alguma. Sem resistência, sem lutas mas que mereceu um tiro no rosto. Depois de preso o assassino que pretendia assaltá-la, mostrou nenhum remorso ou arrependimento, só o sarcasmo de quem não crê em castigos, penas ou nada que o venha a atrapalhar a não ser por pouco tempo. Esse homem e os seus comparsas, segundo se apurou depois oficialmente, estavam sendo "monitorados"pela polícia que, segundo declarações dessa, os seguiam há vários assaltos e nada fizeram esperando pela autorização do poder público para os prender.
Hoje pela manhã, a notícia dos assassinatos do Glauco e do seu filho, ocorrido em São Paulo. Colega de cartoon, conhecido no país todo e não só, a quem conheci anos atrás em Uberlândia quando o convidei para dar uma palestra na universidade onde lecionava.
Apesar das suas lutas e experiências com drogas, em poucos 3 dias de convivência, onde desde cedo, almoçamos, jantamos... trocamos experiências e idéias, vi um homem sensível, um pouco tímido e amigo.
Me lembro de quando nos despedimos, depois de nos termos aberto a vida um ao outro, compartilhando sobre a nossa fé, sobre a minha casa - mulher e filhas, ele nos abraçou emocionado com os olhos a mostrar isso, por ter, com toda a minha certeza, conhecido gente "normal", mas com experiências inusitadas, pouco normais naquela época, compartilhadas sobre Deus, o Seu amor e a Sua graça. Creio que fomos os primeiros cristãos com quem ele conversou sobre a fé e sobre a nossa fome pelos céus.
Nos abraçamos, trocamos um beijo de amigos e, tirando um ou outro telefonema, nunca mais nos vimos. Hoje, a notícia. Triste. Muito triste.
Gente, quando é que esse país vai parar de vez e discutir com seriedade a questão das leis, da sua aplicação e do respeito a elas - a começar dos de cima? Quando vamos discutir sobre o desdém às regras básicas de convivência social, da ética, da moral, do decente, do justo, incluindo-se ai o exemplo que não dão os bandidos de terno-e-gravata do poder público (de onde não estão de fora nem os da religião?).
Que Deus tenha misericórdia desse país. Triste país.
"Corra, porém, o juízo como as águas, e a justiça como o ribeiro perene" (Amós 5:24).
Rubinho Pirola
um dos caras que curto desde a adolescência. puta sexta-feira triste...
12.3.10
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3 comentários:
Há cinco anos atrás passei por um susto que felizmente não teve um fim tão trágico, mas não menos traumático.
Nossa vida na mão de pessoas cínicas e insensatas, uma coisa que nunca esqueço é um dos rapazes que invadiram minha casa ainda se postou de vítima, como se o fato de invadirem minha privacidade e colocarem em risco de vida minha família, sendo que meu neto tinha apenas três dias de nascido, fosse minha.
Como se angariar um patrimônio ridículo à duras penas, pelo fato de ter construído uma casa em um esforço extremo, colocasse um alvo em meu peito.
Sou um humanista, mas não vejo saída para um atitude infantil e compensatória de alguns indivíduos, a não ser uma dura repressão, ainda hoje se encontrasse os rapinantes de minha casa os mataria sem remorsos, pois sei que eles tirariam a vida de toda a minha família sem o menor sentimenot de culpa.
cara, passei minha adolescência rindo das tirinhas do Glauco...
tô indignado...
tô revoltado...
tô de luto.
Também fico muito triste com sua morte. É inexplicável. Cresci vendo seus quadrinhos.
( Tive aula em um seminário teológico em que um professor além de pastor era sociólogo faixa-preta. Professor universitário de sociologia. A área dele era violência urbana. Perguntei para ele quais eram na experiência dele as principais causas da violência urbana no Brasil. Ele me disse:
- A falta de exemplo ético dos políticos em voga na mídia. "Se eles roubam tanto, por que eu não posso roubar também?". E eu pensando: um remédio talvez seja não ter corrupção entre os grandes nomes.
- Baixíssimos salários, desvalorização da mão-de-obra. Isto é, o crime compensa financeiramente. E eu pensando: um remédio talvez seja ter economia mais igualitária e melhor distribuição de renda.
- Falta da figura do pai em casa, deixando algumas crianças sem noção de limites. Eu pensando: um remédio talvez seja concepções de masculinidade e feminilidade mais apropriadas, e famílias mais unidas.
Não subestimemos a complexidade do problema. E não fujamos dele.
)
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