12.3.10

Nota triste (9)

Lá se foi o Glauco! Triste país onde a vida vale muito pouco.

Estou muito triste nessa manhã.

Já não bastasse nessa semana, perdemos duas pessoas amigas para a violência que já está se tornando a marca desse triste país onde a vida vale muito pouco e a justiça, idem.

Não adianta aqui tecer mais comentários sobre o que já está batido, como quem bate no ceguinho. Não adianta mais falar sobre a ineficiência das nossas leis - inadequadas - e da sua aplicação e cumprimento, nem sobre o poder judiciário, tão podre quanto o poder legislativo e o executivo.

Perdemos nesses poucos dias aqui em Uberlândia, uma irmã de uma das nossas comunidades, nova, com uma filha de 3 anos, assassinada friamente diante de um bandido frio e sem noção de absolutamente coisa alguma. Sem resistência, sem lutas mas que mereceu um tiro no rosto. Depois de preso o assassino que pretendia assaltá-la, mostrou nenhum remorso ou arrependimento, só o sarcasmo de quem não crê em castigos, penas ou nada que o venha a atrapalhar a não ser por pouco tempo. Esse homem e os seus comparsas, segundo se apurou depois oficialmente, estavam sendo "monitorados"pela polícia que, segundo declarações dessa, os seguiam há vários assaltos e nada fizeram esperando pela autorização do poder público para os prender.

Hoje pela manhã, a notícia dos assassinatos do Glauco e do seu filho, ocorrido em São Paulo. Colega de cartoon, conhecido no país todo e não só, a quem conheci anos atrás em Uberlândia quando o convidei para dar uma palestra na universidade onde lecionava.

Apesar das suas lutas e experiências com drogas, em poucos 3 dias de convivência, onde desde cedo, almoçamos, jantamos... trocamos experiências e idéias, vi um homem sensível, um pouco tímido e amigo.

Me lembro de quando nos despedimos, depois de nos termos aberto a vida um ao outro, compartilhando sobre a nossa fé, sobre a minha casa - mulher e filhas, ele nos abraçou emocionado com os olhos a mostrar isso, por ter, com toda a minha certeza, conhecido gente "normal", mas com experiências inusitadas, pouco normais naquela época, compartilhadas sobre Deus, o Seu amor e a Sua graça. Creio que fomos os primeiros cristãos com quem ele conversou sobre a fé e sobre a nossa fome pelos céus.

Nos abraçamos, trocamos um beijo de amigos e, tirando um ou outro telefonema, nunca mais nos vimos. Hoje, a notícia. Triste. Muito triste.

Gente, quando é que esse país vai parar de vez e discutir com seriedade a questão das leis, da sua aplicação e do respeito a elas - a começar dos de cima? Quando vamos discutir sobre o desdém às regras básicas de convivência social, da ética, da moral, do decente, do justo, incluindo-se ai o exemplo que não dão os bandidos de terno-e-gravata do poder público (de onde não estão de fora nem os da religião?).

Que Deus tenha misericórdia desse país. Triste país.

"Corra, porém, o juízo como as águas, e a justiça como o ribeiro perene" (Amós 5:24).

Rubinho Pirola

um dos caras que curto desde a adolescência. puta sexta-feira triste...

3 comentários:

Edson Bueno de Camargo disse...

Há cinco anos atrás passei por um susto que felizmente não teve um fim tão trágico, mas não menos traumático.
Nossa vida na mão de pessoas cínicas e insensatas, uma coisa que nunca esqueço é um dos rapazes que invadiram minha casa ainda se postou de vítima, como se o fato de invadirem minha privacidade e colocarem em risco de vida minha família, sendo que meu neto tinha apenas três dias de nascido, fosse minha.
Como se angariar um patrimônio ridículo à duras penas, pelo fato de ter construído uma casa em um esforço extremo, colocasse um alvo em meu peito.

Sou um humanista, mas não vejo saída para um atitude infantil e compensatória de alguns indivíduos, a não ser uma dura repressão, ainda hoje se encontrasse os rapinantes de minha casa os mataria sem remorsos, pois sei que eles tirariam a vida de toda a minha família sem o menor sentimenot de culpa.

João Carlos disse...

cara, passei minha adolescência rindo das tirinhas do Glauco...

tô indignado...

tô revoltado...

tô de luto.

Gսstav໐ Frederic০ disse...

Também fico muito triste com sua morte. É inexplicável. Cresci vendo seus quadrinhos.
( Tive aula em um seminário teológico em que um professor além de pastor era sociólogo faixa-preta. Professor universitário de sociologia. A área dele era violência urbana. Perguntei para ele quais eram na experiência dele as principais causas da violência urbana no Brasil. Ele me disse:
- A falta de exemplo ético dos políticos em voga na mídia. "Se eles roubam tanto, por que eu não posso roubar também?". E eu pensando: um remédio talvez seja não ter corrupção entre os grandes nomes.
- Baixíssimos salários, desvalorização da mão-de-obra. Isto é, o crime compensa financeiramente. E eu pensando: um remédio talvez seja ter economia mais igualitária e melhor distribuição de renda.
- Falta da figura do pai em casa, deixando algumas crianças sem noção de limites. Eu pensando: um remédio talvez seja concepções de masculinidade e feminilidade mais apropriadas, e famílias mais unidas.
Não subestimemos a complexidade do problema. E não fujamos dele.
)

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