19.5.08

Boticário: passagem do bastão

"Não podemos olhar para trás com angústia nem para frente com temor, mas em volta com consciência" (James Thurber).

Há muito que fazer depois de se passar o bastão. Até porque a passagem não começa e nem se encerra no momento em que acontece. Começa muito antes, na cabeça do líder moderno e consciente, que sabe que o tempo passa, é impiedoso, e que quando a sua idade se aproxima do dobro da média da idade de seus clientes, a hora está próxima; de verdade, mesmo, chegou.

Miguel Krisgner, presidente do Boticário, e membro da Academia Brasileira de Marketing, acaba de entregar o comando executivo da empresa onde ingressou em 1986 tornando-se vice-presidente em 2002 a Artur Grynbaum, 38 anos. Antes de sair do dia-a-dia, uma vez que permanece na presidência do Conselho de Administração e cuidando de todas as decisões estratégicas, Miguel colocou a casa em ordem, o Boticário nos trilhos.

Miguel, farmacêutico por formação, abriu seu Boticário em 1977 em Curitiba – uma pequena farmácia de manipulação. Com uma batedeira Walita emprestada da irmã, produziu seus primeiros cremes de beleza, vendidos para as clientes de sua única loja. Acompanhando um amigo vendedor, numa visita que fazia à Gessy Lever, Miguel conheceu na recepção um senhor que quis saber qual era o negócio dele.

Miguel falou que estava começando a fabricação de cosméticos e o senhor, vendedor de uma empresa de vidros, perguntou se ele não estaria interessado em comprar uma grande quantidade de frascos de perfumes que o apresentador Silvio Santos tinha encomendado para um projeto que acabou cancelando no meio do caminho.

Por curiosidade Miguel foi conhecer a pilha de vidros num galpão da Vila Guilherme: 65 mil vidros de perfume, 20 mil de xampu e 15 mil para cremes. Tudo por US$ 40 mil para uma empresa de uma única loja/farmácia, e que faturava US$ 4 mil por mês.

Fechou o negócio para pagar em 10 vezes, e o resto é história: em menos de 30 anos, 2.465 lojas no Brasil, 70 no exterior, e presença dos produtos de O Boticário em mais de 1.000 pontos-de-venda de 20 outros países. R$ 832 milhões de faturamento em 2007, mais R$ 2,4 bi através da venda de 70 milhões de unidades pela rede de franquias.

No meio do caminho caiu em tentação, investiu em outros negócios e concluiu, como sempre acontece, que jamais deveria ter se desconcentrado do território onde reina e é campeão. Vendeu seu shopping de Curitiba – o Estação Plaza – e também todas as participações em diversos shopping centers pelo País. Falando a Norberto Staviski, de Gazeta Mercantil, disse, "Era algo que consumia muito minha energia... Hoje estamos concentrados exclusivamente em nosso negócio".

Por mais restrita e específica que uma especialização possa parecer ser não é; as possibilidades de inovação são infinitas e inesgotáveis; para os que se mantêm concentrados, mergulham fundo, não diminuem o ritmo, não renunciam à visão. E sabem quando é a hora de passar o bastão.

Francisco A. Madia, no Propaganda & Marketing.

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