"Trabalho duro nunca matou ninguém, mas por que arriscar?" (H. Jackson Brown).
Quando Jackson Brown, comediante e ventríloquo, produziu a frase com que iniciamos este artigo: "Trabalho duro nunca matou ninguém, mas por que arriscar?", claro que era em tom de brincadeira, mas mesmo na época, meados dos anos 50, já não traduzia uma realidade. Pessoas morriam de trabalhar, no trabalho ou em casa, mas morriam, mesmo; de verdade.
Infelizmente, de lá para cá, a situação piorou e piorou muito. E para complicar e aumentar o desgaste físico e emocional, as distâncias entre casa e trabalho permanecem as mesmas, mas o tempo gasto no percurso em muitas situações dobrou, em outras triplicou... Se faltava algum aditivo para acelerar o processo de "suicídio gradativo", agora não falta mais nada, principalmente nas grandes cidades do mundo.
É para isso que fomos feitos? Seguramente não. Para o poeta Vinicius de Moraes fomos feitos "para lembrar e ser lembrados... mãos para colher o que foi dado... Para a esperança do milagre..." E muito mais. Até mesmo para morrer "uma estrela a se apagar... A noite dormir em silêncio... Falar baixo, pisar, ver...", mas jamais morrer de trabalho: Karoshi!
A matéria recente de Veja assinada por Roberta de Abreu Lima chocou as pessoas. Conta a história de Kenichi Uchino, que chefiava o controle de qualidade de uma das fábricas da Toyota no Japão.
Morreu com 30 anos, no mês de fevereiro de 2002, fulminado por enfarte às 4 horas da manhã, fazendo hora extra. Tombou em combate. Quase um Kamikase; Quase um homem-bomba; Karoshi!
Nos seis meses anteriores trabalhou uma média de 106 horas extras a mais por mês. A maior parte, não remunerada. Dias antes de morrer, sorrindo, disse para sua mulher Hiroko, "o momento em que mais me sinto feliz é quando estou dormindo".
Depois de quatro anos de briga Hiroko conseguiu que a Justiça reconhecesse as horas extras como parte integrante do salário para efeito de cálculo da indenização.
Depois da Segunda Guerra, no desespero de recuperar o país, a Justiça passou a fechar os olhos ao excesso de trabalho. Para que não se caracterizasse a infração, as empresas pagavam apenas o horário regular e não pagavam as horas extras. O funcionário concordava ou, rua. Em nome da empresa e do país, gerações se submeteram ao sacrifício. Dezenas deles "tombaram em combate" – Karoshi – a maior parte, na faixa dos 50/60 anos. Ainda hoje, um terço dos japoneses trabalha mais de 12 horas por dia. A maior parte desse período sem nenhuma espécie de remuneração. O Karoshi agora acontece antes. Entre os 20/30 anos.
Uchino tombou trabalhando no Prius – carro verde da Toyota, sucesso mundial. O Karoshi atravessou fronteiras e se faz presente em vários países do mundo. Inclusive no Brasil. Cada um deve decidir o que quer fazer de sua vida. Agora Uchino está feliz, dorme para sempre.
Francisco A. Madia, no Propaganda & Marketing.
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12.5.08
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