Eu não sei se eu sou sujeito absolutamente idiota, mas o fato é que não dou conta de tantas coisas que tenho para fazer. Ou seja, trabalho muito, me sobra pouquíssimo tempo para lazer e descanso.
Não acho que isso sirva de exemplo para ninguém; suponho que, aos 54 anos, alguém que tenha exercido os seus talentos com inteligência bastante, deveria ter acumulado dinheiro suficiente para exercer, folgadamente, a opção pelo ócio. (Mas também tenho que admitir que não há uma regra geral: conheço milionários que trabalham, hoje, mais do que trabalhavam quando pobres, bem como conheço pobres que não teriam como tornar-se mais vagabundos do que são hoje se amanhã enriquecessem).
Mas o fato é que apenas com um pouco de sorte consigo uma ou duas semanas por ano para esconder-me no meu paraíso "particular" em Queluz (não digo aonde, movido pelo mais mesquinho ciúme) ou me atrever a uma viagem internacional a passeio, como a que fiz no final de maio, aproveitando o último feriadão do ano.
O resto é tempo ocupado nas mais diversificadas atividades afeitas à comunicação, envolvendo, inclusive, boa parte dos finais de semana. Por isso, meus amigos, eu tenho um absoluto fascínio por aquelas pessoas que nos enviam, com uma freqüência enlouquecedora, e-mails, cujo "assunto" é "uau, muito bom, imperdível, olha essa...".
Tenho uma curiosidade verdadeiramente doentia por saber como, quando e em que condições elas elaboram aqueles arquivos complexos ou acessam e multiplicam esses agentes motivadores de seu encanto, de seu deleite, de seu êxtase, para milhares de almas obreiras espalhadas pelo mundo.
Fantasio situações em que elas, sentadas, ainda de pijama, diante da tela de seus computadores, passam a manhã juntando slides de veadinhos correndo no campo, sob a luz vermelho-alaranjada de um amanhecer sublime, e sobrepondo sobre as imagens frases com "pensamentos" de um lugar-comum que chega a ofender, saturados de reticências e erros de concordância...
Imagino também outros deles, aqueles que, vitimados por insônias crônicas, percorrem o universo virtual, dão a volta ao mundo milhares de vezes, fuçando atrás de bizarrices a serem compartilhadas com outros que, mergulhados em sono inocente, não supõem o que lhes espera de manhã ao abrir os e-mails: um elefante entalado numa boca de esgoto; uma leitoa amamentando uma ninhada de gatos; um carro pendurado numa ponte pela cauda de um cavalo a quem atropelou, que por sua vez está pendurado pelo cinto do cavaleiro, que por conta disso deixou cair as calças...
Que comunidade é essa, Senhor, que atravessa madrugadas, percorrendo os quatro cantos do mundo, trocando inutilidades? Quem são esses personagens que dão o pontapé inicial em cada um desses processos que se tornam infinitos? E quem são os outros que, à maneira de missionários, tratam de manter a dinâmica que faz chegar aos endereços mais improváveis o conteúdo das suas "mensagens"?
Dirão "ora, vá, mas eles não fazem mal a ninguém". É verdade, mas isso também é um problema porque se o fizessem, como os pedófilos, os hackers e outros abusados da internet, seria o caso de denunciá-los e alimentaríamos a esperança de eliminá-los da nossa convivência.
Mas não: eles são como aqueles pedintes, cheios de saúde, que nos abordam nas esquinas, pedindo uns trocados, com uma cara de sonsos, sem representar nenhuma ameaça, apenas despertando a vontade de descer do carro e dar-lhes umas bolachas para ver se abandonam a vida vagabunda.
É chato, é muito chato, por descuido, abrir um arquivo desses e ficar com a tela ocupada por imagens bregas, frases de uma pobreza de dar dó, uma musiquinha irritante e, pior, impossibilitado de brecar a porcaria que precisa ser apreciada até o final, como uma dose cavalar de óleo de rícino.
Proponho identificá-los, divulgar seus nomes, colocá-los numa lista negra, fichá-los numa espécie de SPC da babaquice e da inconveniência humanas. É isso, reajamos, façamos um movimento universal de resistência ao assédio das "gravuras", dos "pensamentos" e das "bizarrices" via e-mail.
Quem houver recebido qualquer dessas coisas, trate de "denunciar" o remetente. Prometo colaborar na listagem. Caso se tratem de amigos ou parentes, caberia a recomendação discreta de que procurasse tratamento ou fosse aconselhado, como muito ouvi no Nordeste, a "caçar serviço". Aliás, acho uma boa idéia.
Vamos adotar como resposta pronta para eles a expressão "vai caçar serviço!!! (inclusive com vários pontos de exclamação, como eles gostam de usar).
Stalimir Vieira, no Propaganda & Marketing.
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9.6.08
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2 comentários:
a impressão que dá é que o autor é preconceituoso e arrogante. a parte sobre os moradores de rua é ridícula. entendo o que ele disse, mas a comparação é horrível.
Também acho que muitas mensagens deveriam ter um sensor de breguice e encaminhadas à pasta de spam.
Mas qual é o problema com as reticências e pontos de exclamação?
Que paranóia!!!!!!!!!!!!!!
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