De todas as maneiras de ganhar dinheiro descobertas pelos seres humanos, a que eu mais invejo é a de quem ganha a vida realizando reuniões desse tipo. Como ninguém sabe qual é o resultado esperado nem exatamente o que se pretende com essas coisas, tudo acaba dando certo. Basta ter a disposição para fazer adultos pagarem alguns micos como passar um bambolê por uma roda de pessoas de mãos dadas, fazer gente aparentemente normal mergulhar de costas para ser aparado pelos colegas, coisas desse tipo, para justificar o dinheiro que ganham. Os mais desvairados ainda obrigam a turma a ficar de olhos fechados e receber a energia emanada do grupo, imitar dança de índios, cantar em coro e fazer tudo aquilo que ninguém cogitaria fazer, pelo menos sóbrio. Há alguma razão para isso tudo, mas minha inteligência não chega a alcançar.
O que me fica é a sensação de uma ligeira vergonha, um certo mal-estar. Mas isso passa logo, tanto quanto a euforia de descobrir que trabalhamos na melhor empresa do mundo e que estamos cercados de pessoas que só querem o bem. Acho horrível ter que dizer isso, mas não agüento mais palestras do Bernardinho, Almir Klink, Lair Ribeiro e tantos outros astros e estrelas na arte de mostrar que dentro de cada um de nós mora um ser destinado à gloria e ao sucesso, bastando saber encontrá-lo.
Se palestras de conscientização funcionassem nós não seríamos tão mal tratados nos Serviços de Atendimento ao Consumidor ou nos balcões da vida. Mas estou sendo cínico demais, amargo demais, coisa que detesto em mim. Pensando bem até que tenho boas lembranças destas convenções, a grande maioria envolvendo amigos queridos que foram submetidos a vexames normais nestas atividades. Me lembro de uma vez que numa grande roda a tarefa era fazer rapidamente uma pergunta pessoal para alguém que deveria dar uma resposta curta e incisiva, e depois fazer outra pergunta diferente para um colega ainda não inquirido. Não me pergunte para que isso serve, mas também não sei explicar a razão de quase nada que acontece numa convenção.
E tome pergunta: “Fulano, qual é o seu time?” “Botafogo.” “Beltrano você dorme como?” “De bruços.” “Cicrano você gosta de fígado?” “Gosto”.... e assim por diante. Por incrível que pareça rapidamente você começa a não saber mais o que perguntar. E começam as bobagens: Mercedes, qual sua cor preferida? Julio você é feliz? Pois foi quase no fim da roda, um diretor da empresa, desesperado por não lhe ocorrer nenhuma pergunta quando chegou sua vez, olhou para o diretor financeiro e mandou brasa: “Fulano, você já deu o rabo?”. Em outra ocasião, o animador, digo, o palestrante, resolveu pedir para todos os participantes se darem as mãos e um de cada vez gritar uma palavra que pudesse retratar a empresa que trabalhávamos. Eu fiquei de mãos dadas com uma colega da contabilidade e com Carlos Silveira, diretor de planejamento. Vindo da turma da frente começaram os gritos: “honestidade!” “ousadia!”, “inovação!” e aí por diante.
Da décima quinta pessoa já começaram a faltar palavras. “Persistência”, “coerência”, “proatividade” apareceram. E os silêncios foram ficando maiores. E a nossa vez foi chegando. Quando chegou a hora do Silveira falar ele encheu o peito e gritou “inoxidável!”. Eu soltei uma gargalhada: “inoxidável, Silveirinha?”. E não me ocorreu nada mais. Parou em mim. Mas em relação à convenção de amanhã, algo me diz que vai ser divertido. Estou vendo da minha janela carregarem uma picape com cocares, bambolês, instrumentos musicais, cordas e um jumento empalhado. Péra aí. Um jumento empalhado?
Lula Vieira, no Propaganda & Marketing.
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