“Não se pode enganar todo mundo o tempo todo”.
frase atribuída a Abraham Lincoln
Nos últimos dias, todos os jornais, todas as revistas, as emissoras de rádio e de TV esmeram-se em dizer e repetir – pelas falas dos seus analistas e dos especialistas entrevistados – que a presente crise mundial (1) é passageira e não nos vai afetar, no Brasil, e (2) é financeira, localizada, e tem a ver com empresas e bancos norte-americanos.
Pois é. Parece, mas não é. A atual crise é mais grave ainda do que aparenta, é mundial, não vai acabar tão cedo e – mais importante – não é econômica nem financeira; é ética.
Claro que posso estar errado, diante das eminências que estão emitindo as suas doutas (porém, setorizadas) opiniões; as probabilidades estão contra mim. Mas levo uma vantagem, pelo fato de a minha análise ser pluridisciplinar (pois sou geminiano), e emocional, portanto: pós-moderna.
Tudo começou há uns dez anos, quando meu amigo Redi – o cartunista, falecido em 2004 – teve de simplesmente entregar ao banco o pequeno apartamento que tinha comprado, em New Jersey, porque – depois de pagar 3 anos de prestações mensais, estava devendo o dobro do valor do imóvel. Ele fez as contas e viu que era mais negócio sair do negócio. A decepção contribuiu, em boa parte, para a sua morte precoce.
Continuou, quando recebi uma grana, em 2000, e investi num fundo a prazo fixo, em dólares cujo representante prometia-me uma valorização de quatro a cinco vezes o principal em dez anos. Em quatro anos, meus dólares haviam caído para metade. Em oito, voltaram ao preço inicial e só “perdi” 2 mil dólares, da multa. Como eu, milhares, milhões de pequenos poupadores e investidores – em todo o mundo - viram suas economias tornarem-se líqüidas (ou seja, virar água). Continua, ainda: recebi da Sul América uma cartinha dizendo que o seguro de vida do Clube dos Executivos, que me venderam há 35 anos, não valia mais, agora que tenho 67 anos e vou precisar dele... Estou processando-os.
São dois exemplos pessoais, próximos, de algo que o Economist tratou bem mais em detalhe – em sua edição de 15.5.8 – registrando suas fortes suspeitas de que os responsáveis pelo mercado financeiro mundial, na ânsia de ganhos fáceis e mirabolantes, haviam definitivamente ensandecido.
Outros exemplos brasileiros que me ocorrem, sem pensar muito: a cartelização das tarifas bancárias; as quadrilhas dos call centers; a carta aberta que Elio Gaspari escreveu ao presidente da Nestlé - como se fosse o suíço fundador da empresa - repreendendo-o por colocar menos farinha láctea nas embalagens, e manter o preço; as tarifas aéreas fluídas e extorsivas cobradas pelo duopólio que hoje nos explora; o “alinhamento” multinacional das verbas publicitárias por razões puramente monetárias; o comportamento de todas as operadoras de telefonia, fixa ou móvel; das oficinas autorizadas do setor automobilístico... A lista é interminável.
Esta é a crise: os tais “responsáveis” pelas finanças mundiais acharam que podiam enganar a todos, o tempo todo, e estão descobrindo que não vai ser bem assim. Que Deus nos salve.
J. Roberto Whitaker Penteado, no Propaganda & Marketing.
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Um comentário:
Uma pena que teus comedntários não sejam publicados em jornais de grande circulação das capitais.
Hamilton
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