9.9.08

Quando os crentes davam certo (4)

O que acontecia, então, quando uma pessoa se convertia? Pegava-se "no laço" e a fazia membro da Igreja no dia seguinte? Longe disso. Existiam as classes especiais de estudo, denominadas de "Classes de Novos Convertidos", ou "Classes de Catecúmenos", com uma duração mínima de seis meses, de presença obrigatória para os novos crentes. Ali eles estudavam o Plano de Salvação, as Sagradas Escrituras, as Doutrinas Básicas da Fé Cristã, Ética e Características da Denominação (inclusive o compromisso de contribuir com o dízimo), enquanto eram observadas em seu novo comportamento.

Somente depois desse período eram examinados por conselhos, comissões ou assembléias (conforme a prática denominacional) e eram batizadas e/ou faziam a Pública Profissão de Fé/Confirmação, um rito de suma importância para a nova criatura, que se tornava membro pleno da nova comunidade de fé.

Nada de pressa, nada de superficialidade, nada de preocupação com números. O resultado era a estabilidade, as pessoas ficavam na Igreja, não havia "rotatividade".

Depois de professo, o novo crente se tornava aluno regular de uma das classes da Escola Bíblica Dominical, onde estudaria as Escrituras pelo resto de sua vida. As "uniões de treinamento" (homens, mulheres, jovens) também tinham a sua literatura, e faziam a sua parte na educação continuada dos crentes. Estes eram estimulados à leitura devocional diária da Bíblia, e a lerem livros evangélicos, além de assinarem os jornais oficiais das suas denominações ("O Cristão", dos congregacionais; "O Jornal Batista", "O Brasil Presbiteriano", "O Estandarte", Episcopal etc.), para se manter informado sobre o que acontecia em seus arraiais.

No campo da apologética, havia palestras e textos que ensinavam como diferenciar o Protestantismo do Catolicismo Romano, ou as diferenças entre os diversos ramos do Protestantismo. Isso não requeria alta escolaridade (algo muito raro na época), mas era usual para o crente mais simples.

Com um lastro de conhecimento desses, os crentes davam certo...

Robinson Cavalcanti, bispo anglicano.

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3 comentários:

Anônimo disse...

Não sei, não. Já fui evangélica e o que posso dizer? Esses anos não eram tão dourados como diz o bispo. Acredito até que o estado atual dos evangélicos é consequência e não decadência do que já foram.

Camila

Anônimo disse...

Para começar, quero deixar claro que simpatizo fortemente com o anglicanismo. Ao menos em termos de Brasil, penso que os anglicanos representam a comunidade que melhor sabe sintetizar a tradição protestante, de origem católica, e as novas questões que têm surgido nestes últimos dias, sem esquecer de nenhum dos lados.
No entanto, e apesar de pensar ter compreendido o que o bispo quer dizer ao longo destes 4 textos, não consigo concordar, e isso por várias razões.
Primeiro, penso que saudosismo demais sempre compromete a história. Acabamos, em função de nossos afetos e da distância temporal, suavizando e simplificando bastante os fatos. "Antigamente" tudo parece ter sido melhor e mais autêntico que no presente. Quando na verdade, por melhor que tenha sido, não foi bom o suficiente para perdurar.
Segundo, penso que agarrar-se a idéia de que "instrução" garante uma vida firme e estável ao crente também é uma forma de reducionismo. Primeiro pelo simples fato de que é possível ser amplamente instruído na coisa errada ou do modo errado (fundamentalismos, usos e costumes, sãs doutrinas aos baldes, etc.), basta lembrar a fala do apóstolo Paulo: "eles têm zelo, mas sem entendimento". Segundo que se instrução e "boa teologia" realmente fosse o bastante, a europa não teria sofrido um esvaziamento tão intenso de suas igrejas.
Quero deixar claro que concordo com a necessidade de instrução de qualidade, ampla, profunda e diversificada. No entanto, instruir nem sempre traz consigo a sempre urgente e necessária necessidade de ensinar a pensar, de ensinar a questionar, de ensinar a criticar, de ensinar a respeitar, enfim, de ensinar a dialogar.
A mim me parece que tanto nos idos da época em que os "crentes davam certo" quanto nos atuais dias dos "crentes que dão errado" (pois é isso que se conclui a partir do título dos textos do bispo), este tipo de ensino, que mais do que ensinar a distinguir o Velho do Novo Testamento, ensina também a autonomia, a coerência e a responsabilização individual, estará presente somente e infelizmente no futuro.
Terceiro, e para encerrar, penso que "dar certo" ou o subentendido "dar errado" não são categorias suficientes para retratar épocas que retratam pessoas. Se seguirmos essa categorização, então, ser cristão é dar certo e dar errado o tempo todo, de muitos modos e níveis diferentes. E isso indica um problema central: não se pode partir de considerações exteriores (comportamentos, práticas, métodos) para se determinar o que "dá certo" ou "dá errado".
É claro que comportamentos, práticas e métodos são coisas visíveis, que aparecem, que transbordam de dentro para fora e dão testemunho daquele(s) de quem se originam, mas não são tudo. O decisivo e realmente diferencial, a mim me parece, realmente é o amor. E este, por sua vez, em nada abstrato, mas em tudo concreto, repleto de respeito, de justiça, de solidariedade, de honestidade... enfim, "não de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade" e que só mesmo Deus é capaz de distinguir como sendo a verdadeira motivação.
E neste requisito, penso e confesso (pois me incluo em meu tempo e entre os crentes de hoje, de ontem e de sempre), estamos sempre deixando a desejar.

Camila Hochmüller Abadie

Volney Faustini disse...

Sabendo do risco de tornar a discussão-comentário meio estéril, aind'assim quero continuar a dar meus pitacos.

Primeiro - espero que Dom Robinson esteja lendo e nos brindando com respostas em novos textos - de maneira direta ou indireta. Não importa.

Segundo (e não digo isso por ele ser meu amigo!), que Dom Robinson é um dos poucos que realmente conhece bem a história do evangelicalismo brasileiro: desde a década de 60 (estava praticamente eu ainda em fraldas he he), já participava de movimentos da ABU e Fraternidades.

Nas décadas seguintes sempre esteve muito atuante - viajando e conhecendo os rincões do Brasil e além mares: Lausanne 74, Geração 79 e outros movimentos intra muros e extra muros (políticos também).

Isso posto para dizer - vamos entender o que se passou nas últimas décadas (quiçá no século) com o mover de Deus e da Igreja. Tirar lições, não necessariamente usar o que deu certo, mas pelo menos compreender e contrastar com hoje.

Apesar da questão da instrução - o outro lado da moeda que deve ser entendida é o da simplicidade. Ou seja, não havia o elabolarismo sofisticado e market-oriented de hoje. Creio que o Espirito Santo aprecia mais isso.

Uma outra coisa que vejo é a questão do andar das coisas. Há uma involução. A Igreja parece que - com todos os seus 'pobremas', estava buscando aperfeiçoar-Se e ser Missão (ao invés de fazer Missão).

Perdemos o caminho do nosso andar com Deus - de maneira mais tranquila, mais saudavel, mais apropriada, mais frutifera (não usei mais espiritual de propósito!!) para cairmos no caminho de hoje ...

Há exceções? Há ilhas do que mencionamos? SIM

O Espírito continua a soprar? Os púlpitos continuam trazendo boas palavras, sermões, pregações? O povo é acrescido dos que crêem? CERTAMENTE QUE SIM

Ao olharmos para o hoje com certa crítica - e nos voltarmos para trás, veremos que perdemos algumas coisas no meio do caminho. Que tal resgatarmos????

P.S. - Camila eu sou corinthiano e faço coro pro seu blog (pois vc escreve muito legal e tem bom conteúdo): não para, não para, não para ...

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