Naquele tempo o cenário religioso brasileiro era mais claro e menos "plural": havia as diversas expressões do catolicismo romano (mais de 90% da população), o espiritismo kardecista e os cultos afro-brasileiros (chamados, em conjunto de "macumba"), além de um ou outro "livre-pensador" ou seguidor do Positivismo de Augusto Conte. Os protestantes de migração (luteranos alemães na zona rural, anglicanos britânicos nos centros urbanos) já estavam aqui desde a Regência, mas "não ofendiam ninguém", pois não evangelizavam os brasileiros. Aí, na segunda metade do século XIX chegaram as Igrejas históricas de missão (congregacionais, presbiterianos, batistas, metodistas e anglicanos/episcopais), que foram os únicos entre 1855-1909.
Diante de adversários em comum, e a partir de uma base de crenças em comum (todos eram evangélicos) se criou a consciência de se pertencer a um mesmo "povo": todos eram evangélicos ou "crentes", antes de serem batistas ou presbiterianos. Rivalidade sempre houve, mas em um nível menor. Todos se sentiam um. Depois do Congresso do Panamá, de 1916, se promoveu a produção conjunta de material para a Escola Bíblica Dominical, e, entre 1934-1964, a Confederação Evangélica Brasileira (CEB) aglutinava os protestantes, promovia eventos, imprimia textos, e, tanto o "Dia da Bíblia" (segundo domingo de dezembro) como o "Dia da Reforma" (31 de outubro) eram nossos "feriados protestantes", comemorados por todos.
Havia um respeito e uma ética nos relacionamentos, e não uma competição selvagem. Instituições unificadas como "cemitérios protestantes" ou "hospitais evangélicos" eram demonstrações do esforço de todos.
O importante é que todos consideravam o outro como um "salvo", um "evangélico", um "crente", um dos nossos. Havia um "orgulho santo", meio judaico, de pertencermos todos ao Israel de Deus, ao Povo da Nova Aliança, além do fato de que todos eram igualmente discriminados e chamados de "bodes". Quando os "bodes" eram unidos, os crentes davam certo...
Robinson Cavalcanti, bispo anglicano.
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Um comentário:
Tenho procurado comentar nos outros artigos desta série brindada no pavablog.
Quero dizer que é muito importante conhecermos a história do mover de Deus nessas décadas (e os erros e acertos dos homens - alguns de Deus e outros não), e procurar no hoje, compreender o que perdemos no caminho, e o que devemos evitar. E atentarmos também para as conquistas.
Por exemplo, quando meu clube voltar pra primerona, e jogar aos domingos, poderei ir ao EStádio sem a consciência travada por traumas do legalismo. ;)
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