20.10.08

Radio days

"Meu pai odiava o rádio. Mal podia esperar que a TV fosse inventada para odiá-la também".
Peter De Vries

Tenho uma antiga relação de amor e ódio com o rádio do meu carro. Menos antiga do que a minha relação de amor com o rádio, que é quase dos radio days do filme do Woody Wallen, só um pouquinho mais recente. A de amor - só nasceu no final dos anos 40, quando - garoto carioca - ouvia, extasiado, os programas da Rádio Nacional e já completou 60 anos.

Esta, do início do artigo, é da era da televisão quando comecei a guiar meu próprio carro, um fusquinha 62, no ano de 1966. Salvo por circunstâncias especialíssimas, como música de fundo pela FM ou transmissão de futebol, nas raras ocasiões em que não havia TV por perto, é como eu acho que quase todo mundo ouve rádio: ao volante. Antiga, mas não pode ter mais de 40 anos. O amor fica todo por conta da companhia que o rádio nos oferece quando estamos sozinhos dentro do auto. Vamos ao ódio.

Durante muito tempo, os únicos momentos em que minha mão se dirigia, célere, ao botão de desligar, foi quando ouvia "Em Brasília 19 horas e esganava a Voz do Brasil ou para cortar a invasão dos meus espaços privados pelo TSE e os patéticos candidatos a cargos eletivos.

Ultimamente, porém, estou-me percebendo – com freqüência cada vez maior – a manejar o tal botão com a presteza de quem sacava do revólver, nos velhos filmes de faroeste... Desligo, por exemplo, quando uma pessoa extremamente chata está sendo entrevistada por um repórter especialmente mal-informado. Um não sabe o que perguntar e o outro o quê responder... Desligo, também, quando noto que a mesma notícia vai ser repetida com as mesmas palavras pela quarta vez, em menos de uma hora.

Mas noto que começo a desligar o rádio, também, ao ouvir os primeiros sons de mensagens comerciais que se registraram nos meus neurônios auditivos como incômodas. Deixo passar uns minutos e depois religo. Cito algumas. Praticamente todas em que a mensagem é recitada por alguma criancinha, que deveria estar em casa ou na escola – e não trabalhando, coisa que é proibida, no Brasil, por lei. Também desligo quando noto que a mensagem não é spot nem jingle, mas a reprodução pura e simples – e incompreensível – da trilha sonora do filme da TV. Todos em que o marido/pai é apresentado como o idiota, desajeitado, da família. Aquele do Tiratosse, em que cantam assim, cof, cof, cof. O da Unidas que diz que você não pode por a mão no bolso porque está guiando. O da VW que tem eco no caminhão porque ele está vazio. O do pop pop pop do champanhe, da Itaucap. Da moça resfriada do Benegripe, que diz Fogundes. As notícias do coração do hospital do idem. A médica que receita um negócio chamado YKP e ouve Obrigado doutora. O cara da Ford que diz Estou animadão. Todos do Faustão, mas, sobretudo aquele em que diz: já pensou ganhar mil vezes o valor da sua compra? Uma outra musiquinha: um mundo novo para você! e o coro canta alface-alface-alface e você descobre, no fim, que é Alphaville...

Como escrevi: é uma relação de amor e ódio.

J. Roberto Whitaker Penteado, no no Propaganda & Marketing.

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