11.11.08

Fobia

CERTA FEITA uma amiga psicóloga me disse que existe hoje em dia um fenômeno chamado "homem fóbico". O que seria isso? Um homem que tem medo de casar. Namora, mas, quando a mulher pensa em compromisso, ele desaparece.

No fundo, este medroso é um infantil que padece de uma idealização da mulher tão grande que faz todas as mulheres reais parecerem bruxas devoradoras de meninos. A culpa deve ser da mãe deles. Mas há outras causas.

Devemos prestar atenção nessa queixa porque ela vai ao encontro de uma outra queixa comum, dessa vez, das mulheres: "Não existem homens no mercado, o quilo de homem está caro!". Para este fóbico as mulheres ficaram muito egoístas e insensíveis. Não valem o investimento.

Segundo a literatura sobre o assunto, esse fenômeno está associado ao processo denominado genericamente de "crise do patriarcalismo".

Num primeiro momento, esta "crise" refere-se a um desmantelamento da família na qual o homem era o chefe do casal. Num segundo momento, refere-se à dissolução das figuras do homem e da mulher tal como pensamos nos últimos 2.000 anos (sabe-se lá há quanto tempo...). Esta fobia seria um efeito colateral dessa "crise".

Vale notar que muitos dos teóricos e das teóricas que tratam desse tema são pessoas que têm "interesse" na crítica do modelo clássico de família, seja lá por qual razão for... A neutralidade intelectual neste debate sobre sexualidade é uma mentira.

Alguns fatos históricos descrevem as raízes desse processo: a radicalização da Revolução Industrial, a exploração da mulher pelo capital, o retorno dos soldados americanos da Segunda Guerra (as mulheres foram trabalhar durante a guerra e não queriam voltar para casa ao final dela), as revoluções anticoncepcionais etc.

O crescimento do número de mulheres como chefe de família faz feministas beberem até cair de felicidade. Lágrimas sinceras de emoção brotam de seus olhos endurecidos pela longa batalha travada em favor da destruição do "patriarcalismo".

Todo tipo de "aberração" é associado a essa figura (patriarcalismo): nazistas, serial killers, poluição ambiental, Guerra do Iraque, extermínio dos astecas, invasão das abelhas assassinas, destruição de planetas em Andrômeda, a penetração no ato sexual heterossexual (afinal, as mulheres só gostam do sexo heterossexual por culpa da ideologia "patriarcal"!), enfim, a infelicidade geral que domina o cosmo desde o Big Ben.

Estou exagerando é claro. Mas nem tanto. Esse exagero é simétrico ao delírio de alguns setores feministas mais fanáticos.

O ser humano é histórico, mas há exageros na idéia de que possamos "reinventar" o humano ao sabor da moda intelectual do momento. Não acredito em engenharias sociais que projetam "seres humanos melhores". Neste caso, isso quer dizer: homens e mulheres com afetos sexuais corretos. As teorias que visam construir esses afetos corretos me parecem tão reais quanto longas conversas com marcianos verdes.

Explico-me: sou a favor da Delegacia da Mulher, de mulheres como presidente da República, médicas, advogadas, cientistas, enfim, mulheres que fazem o que querem, mas não acredito que papéis masculinos e femininos possam ser construídos pela "correta política dos afetos".

E pior: muitas teorias sobre esse assunto deságuam em simples incentivo à miséria afetiva de ambas as partes. O mal estar continua, com ou sem patriarcalismo, porque o problema é a incapacidade de amar. Cinismo, rancor e melancolia acompanham a simplificação barata do amor entre homens e mulheres. A feminista fanática e o machista são ambos impotentes do amor. Deviam sair para jantar juntos.

Há um sofrimento nessa simplificação barata. Simplificação barata aqui quer dizer: a redução do amor e do sexo às relações de poder. O "saudável" Sade é seu patrono. Só a má fé ou a desinformação não vê que a cama do casal agoniza sob a bota da "nova política dos corpos e dos afetos". A política não gera o amor. A fome de amor sim é a regra universal.

Efeitos colaterais deste processo fazem homens e mulheres sofrerem na esteira dos exageros do "mito do homem como príncipe universal das trevas". As mulheres não suportam os novos homens inseguros. A fúria militante mente sobre isso. As mulheres podem ser tudo o que querem, mas sentam na janela de seus escritórios, contemplando o risco crescente da solidão.

Luiz Felipe Pondé, na Folha de S.Paulo.

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Um comentário:

Anônimo disse...

texto bem pesado, acho que explica o fenomeno das pastoras. mas serve apenas de aperitivo para começar uma boa conversa, tem muito pela frente...

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