8.11.08

Quando denominações se unem

O que fazer como minorias de cristãos em uma área dominada por grandes religiões: bramanismo, islamismo, jainismo, sikismo, budismo? Como unir recursos para uma grande missão? Como testemunhar o evangelho em unidade? Como não ter uma face estrangeira (importação cultural) diante de culturas milenares? Essas questões incomodaram líderes cristãos da Índia, que iniciaram conferências ecumênicas desde 1855. Já em 1908 se dava a primeira fusão – de presbiterianos e congregacionais – com a criação da Igreja Unida do Sul da Índia. A Conferência de Traquebar, em 1919, recomendou o início de uma caminhada séria que levasse à fusão de denominações em Igrejas unidas.

Em 27 de setembro de 1947, foi finalmente criada a Igreja do Sul da Índia (www.csichurch.com), com a fusão dos anglicanos, metodistas, presbiterianos, congregacionais e reformados holandeses, tendo como base o Quadrilátero de Lambeth (Escrituras, Credos, Sacramentos, Episcopado Histórico). Hoje a Igreja do Sul da Índia possui 15.000 congregações, com 3 milhões e 800 mil membros, 2.000 escolas, 130 faculdades, 104 hospitais e 500 abrigos para 35.000 crianças.

Como fruto do mesmo movimento, foi criada, em 29 de novembro de 1970, a Igreja do Norte da Índia, com a união de anglicanos, metodistas, presbiterianos, batistas, irmão livres (irmão de Plymouth) e discípulos de Cristo. A Igreja do Norte da Índia (www.cnisynod.org) possui 26 Dioceses, 1 milhão e 250 mil membros, 65 hospitais e 250 instituições denominacionais.

Inicialmente, houve uma aceitação de todas as ordenações, a criação de um Episcopado histórico pela imposição de mãos de Bispos Anglicanos e da Igreja Siriana Mar Thoma (reformada), e, a partir de então, todo o novo clero foi sendo Ordenado com sucessão apostólica.
Essas Igrejas unidas e inculturadas têm crescido, principalmente com a conversão na casta dos parias (dalit) e nas populações tribais.

Em 01 de novembro de 1970 foi criada a Igreja do Paquistão (www.churchofpakistan.org.pk), unindo anglicanos, metodistas, presbiterianos e luteranos, contando hoje com 800 mil membros, sob sérias restrições do regime islâmico.

Em 1971 o Paquistão Ocidental se separou do Paquistão Oriental, criando o país independente de Bangladesh. Isso levou, também, a divisão da Igreja. Em 1974, um sínodo deliberou pela criação da Igreja de Bangladesh.

Essas Igrejas incorporaram as diversas tradições denominacionais dentro do contexto cultural local, são presididas por um Moderador, têm um manual de liturgia inspirados no Livro de Oração Comum (LOC), e estão todas elas hoje filiadas à Comunhão Anglicana, como Províncias Autônomas. “Somos hoje todos bons anglicanos”, me dizia em abril passado o Reverendo Cônego Vinay Samuel, diretor do Centro de Oxford para Estudos Missiológicos, e ele mesmo um clérigo da Igreja do Sul da Índia.

Diante do incessante “rachismo” e “americanalhismo” da cristandade reformada brasileira atual, essas ações de unidade geradas pelo Espírito Santo em corações movidos pelo amor a causa e ao bom senso, nos serve de alento.

Poderia algo semelhante acontecer também na Terra da Santa Cruz?

Robinson Cavalcanti, bispo anglicano.

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