27.12.08

Rodeios

Mijar de pé é uma facilidade masculina.

Há a disponibilidade para explodir a qualquer momento. Num poste, numa parede, atrás das árvores, na falta de algo melhor. Já reguei a floreira da mãe e uma escultura de bronze de artista famoso de Porto Alegre.

Preparo um olhar inocente a despistar meu ato. Um pouco de teatro amador é suficiente para não dar na vista a má educação. Uma aula com José Celso Martinez serve para manter a aparência durante toda a vida.

O rosto assobia e saímos impunes.

Não seremos abordados por estranhos, denunciados por ambientalistas. Somos pichadores transparentes. Não pagaremos multa pela virilidade, não repintaremos as paredes. Alimentamos uma amizade pura com o musgo e limo. As trepadeiras são nossas amantes. Não existirá um fiscal de trânsito dos gramados, que nos abordará dizendo que estacionamos o pênis em local proibido. Somos cavalos intuitivos atravessando as ruas da uretra.

Não precisamos de papel e de uma movimentação renascentista para arriar as calças. Não dependemos de um biombo como as mulheres. A única barreira é o zíper, um oponente que não mostra a mínima resistência.

Nascemos mangueiras. Na urgência, esguichamos com volúpia. Ejetamos. A saída de emergência é mais usada do que a maçaneta.

O desembaraço tem um preço: a direção.

Regrar o dispositivo é um problema militar. Bêbado, inundei uma pia. Não me pergunte como. Sóbrio, o tapete conheceu dias de tempestade.

Acertar o halo de uma privada pede uma técnica circense, mesmo levantando a tampa. A ansiedade muda o trajeto da torrente e temos que limpar a cena do crime e conter o vazamento.

Para não sofrer o vexame do tiro ao alvo, o homem dispõe de uma estranha adoração por ralos.

O ralo é a privada perfeita masculina. Sem erro. Ecumênica com todos os lados.

Ponha pinho sol no box do banheiro como prevenção, senão lembrará das bancas de peixes do mercado público.

Sei lá o que acontece, a água quente sugere relaxamento ao corpo e o macho se desmancha. Somos líquidos desde o ventre.

Minha namorada armou para cima de mim. Criou uma cilada perfeita destinada a inibir mijões desregulados. Nem a porta fechada me mantém seguro.

No primeiro dia em sua casa, fui me aliviar em segredo. Quietinho, reprimindo a respiração. Mas o pau escapou do centro de gravidade, como uma bola de boliche arremessada na vala.

Acreditava que escaparia do constrangimento. Não esperava que ela tivesse colocado diversas latinhas ao redor do vaso.

Uma campainha soou com o barulho ensurdecedor da rajada no metal.

Ainda estou me explicando.

Fabrício Carpinejar
arte: Giacometti

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2 comentários:

Anônimo disse...

kkkkkkkkkk perfeito.... esse opcional de fábrica de fato é muito eficiente... não tem uma mulher q em uma barzinho, no meio da rua e coisas do tipo, não tenha sentido um desejo fortíssimo de ter vindo com um!

Anônimo disse...

Mijar de pé é uma questão de honra. E a cueca e a calça tem a honra de receber o último pingo. Uma mancha na calça e um alívio.Homem gosta de marcar território.

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