13.12.08

Ninguém deseja ser infeliz em dezembro

Não se pode se separar em dezembro. Deveria ser proibido por lei. Constar na Constituição.

Tem o Natal, o Ano-Novo e as crianças.

Há as festas intermináveis em família.

Quem será idiota de pedir o divórcio em dezembro, logo quando encontrará todos os parentes?

Contou com o ano inteiro para a ruptura e escolheu a pior data. Dará satisfações a cada vez que se servir na mesa?

Que mesa? Não será chamado para festa alguma porque será sinônimo de agouro e tristeza. Um gambá espiritual. Um guaxinim de estrada. Um fede-fede dos pinheiros.

Não será convidado, é agora o principal motivo de fofoca. O pêssego do pernil.

Entre sua cara de choro e a fofoca, os familiares ficarão com a fofoca. Falar mal de você pelas costas é agradável, mais atraente do que acompanhar a missa do Vaticano na tevê. A maldade não termina, não sofre oposição.

Seu sofrimento não combinará com as ruas lotadas, a algazarra das piscinas, o papai-noel das lojas chantageando sua infância.

É um fracassado, desorientado, sem casa para voltar, regressando ao seu antigo domicílio em horário de expediente para brincar com as crianças e dizer que tudo bem, a confusão vai passar, nada mudou.

Desperdiçou o grave e inadiável instante de aproveitar o 13º salário, pensar nos presentes e escondê-los no armário, arrumar a ceia, participar de amigo-secreto, mandar postais, comprar roupas. As coisas boas e deliciosas da intimidade.

Não é o momento de brigar, discutir e encontrar um culpado dentro de você.

Enterre seu amor e confesse em março. Mas não consegue mentir.

Por que ao menos não esperou janeiro e fevereiro, onde a maioria dos conhecidos está na praia?

Não, tem razão, daí estragaria as férias.

Mas gente normal não incomoda, não conversa sério, não se machuca no período.

Desista, o mês é curto, acaba em 24 de dezembro. Não há como comprar apartamento, mobiliar o espaço, arranjar um fiador. Muito menos o eletricista terá disponibilidade, o mesmo ouvirá do marceneiro para desmontar e montar as estantes. Não vislumbrará os homens do frete nas praças.

Pretende desabafar e procurar tratamento. Pretende explicar que a separação é parto natural, que não é uma cesárea, para escolher o signo da criança e a data do parto. Esqueça também, acha que encontrará algum psicólogo com agenda?

Estarão em festa com a família, onde deveria estar, seu idiota!, se não inventasse de destruir o Natal dos outros.

Ninguém deseja ser infeliz em dezembro.

Seu insensível, como pode arrancar da tomada as luzinhas da árvore?

Fabrício Carpinejar
arte: Lucien Freud

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Um comentário:

berna disse...

Acho que esta tradição está muito arraigada no nosso imaginário;mas fazer o que? Você acha que eu vou dizer para a minha família que eu não vou para a ceia de Natal?nem pensar. Não gosto de seguir tradição, mas também não vou entrar em conflito com a minha família, quero estar junto de todos.

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