28.12.08

Uma DJ salvou a minha primeira balada indie

Quando a gente sai pela primeira vez para um lugar que não conhece direito é sempre um mistério. Confesso que joguei no Google o nome do lugar. Era o Outs, o famoso Outs, mas eu sentia como quem estava saindo do armário, mesmo não gostando do meu criado-mudo. Vi fotos, estudei, analisei e peguei o metrô.

Lá estava uma garota branca, baixa, magra e bonita uniformizada de indie. Deu vontade de ser seu amigo. Pensei no quanto isso era anti-blasé e resolvi contar os dedos que tenho na mão. Ela me olhou e, com certeza, pensou que eu era louco. Esboçou um sorriso e voltou a ouvir seu iPobre. Tinha cara de DJ. DJ tem cara de DJ, assim como quem tem banda tem cara de quem é de banda. Uma persona full-time descolada enquanto eu tentava arranjar uma adjetivo bacana que não fosse tão cafona como prafrentex. Vanguarda! Soava meio kitsch. Ou não.

Um buraco na parede, uma porta escura e papos estranhos. Cheiro de cigarro tão forte que logo que a gente entra tem a sensação de que a expectativa de vida caiu uns 5 anos. Pulmões contraídos e coração pulsante. Não, não é amor. É The Rakes tocando lá em cima enquanto alguma banda pseudo-famosa concentra gatinhas na frente e marmanjos com suas cervejas de R$3,50 atrás.

Quando o ontem e hoje se encontram à meia noite é meio difícil subir a escada. Desviar dos bebados, dos desmaiados e dos pagadores de promessa. Antes, achava que eles ficavam ali como pervertidos inertes esperando pra ver garotas e saias curtas de baixo pra cima. Hoje, sei o nome de cada um deles já que batem o ponto e coma alcoólico naquele lugar e que preferem doses de bebida em copos de plástico à camisinhas de borracha.

Do lado de fora, gente entrando e saindo de baladas, puteiros e putas no lado mais divertido da rua de nome feminino. Que tropece agora quem nunca pensou em quantos reais poderia descolar se caísse na vida por ali. Um dia, uma amiga foi abordada por um cara mais velho que ofereceu 200 reais pela hora. Ela ficou toda orgulhosa. Ele perguntou se podia pagar em duas vezes e até hoje eu me pergunto onde que passaria o cartão.

Mas era bacana ver a pista cheia dançando The Killers, jovens flertando ao som de Neon Neon dando motivo para a gíria dos anos 80. Meus pés encharcados de cerveja barata e cinzas de cigarro manchando meu all-star azul e hoje sei que minha mãe preferia ter um filho ‘viado’ a ter um filho indie pra não ter que deixar o tênis de molho.

Na volta, metrô bebado, motorista anunciando as estações com a voz da morte e eu posso jurar que Madonna estava fazendo a Alzira no ferro que ia do chão ao teto perto da porta. Também vi as asssutadoras gordas pin-ups meio ogras, gente mais magra do que eu que não mora na África e seres que não são certamente homens ou mulheres, nem andróginos, mas algo no meio disso, por mais que eu não concorde ou discorde, muito pelo contrário.

No fundo do vagão, uma garota indie branca, baixa, magra e bonita, de olhos sonolentos. Esse era o uniforme do metrô naquela manhã. Ela me pediu um cigarro, mesmo sabendo que não poderia fumar ali e disse que tinha me visto no Outs. Que era DJ e que eu dançava engraçado e que mudava de música para ver minha reação. Ela falava rápido e eu estava constrangido e, bom, eu dormi.

Felipe Luno, no Pink Ego Box.

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