4.1.09

Hoje é ontem e amanhã

Longe da cidade, longe do foro
Clamoroso e do tempo, que é mudança,
Edwards, eterno já, sonha e avança
À sombra de copados ramos de ouro.
Hoje é ontem e amanhã. Não floresce
Uma coisa de Deus no calmo ambiente
Que não o exalte misteriosamente,
O ouro do luar, ou quando entardece.
Pensa feliz que o mundo é um eterno
Instrumento da ira e que o ansiado
Céu foi para pouquíssimos criado
E quase para todos foi o inferno.
No centro pontual do emaranhado
Há Deus, a Aranha (1), o outro aprisionado.

Jorge Luis Borges, em “O outro, o mesmo”

(1) Invocando a imagem do fogo, Edwards, espumando, trovejava do púlpito “que o Deus que vos mantém acima da entrada do Inferno, tal como mantemos a Aranha ou outro inseto repugnante acima do fogo, vos abomina, e é terrivelmente provocado; a Ira que brande contra vós queima como fogo, Ele vos considera como sem valor, dignos apenas de ser devorados pelo fogo; seus olhos tem muita pureza para suportar-vos em sua Visão, aos seus olhos, sois dez mil vezes mais abomináveis que a mais odiosa serpente venenosa o é aos vossos.”

via blog Amarelo fosco

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