11.1.09

A narrativa precisa avançar

Um mundo cravado pela violência e maculado pelo esparramar indiscriminado do sangue não encontra morada nos planos Daquele que inaugurou a história. Não é na morte de Abel que a narrativa deve terminar. Devemos e podemos dar curso a história: essa é a mensagem que o coração da Tanakh bombeia repetida e vertiginosamente, essa é a esperança que animou Jó em sua desgraça, esse é o convite levantado com paixão pelos profetas. A narrativa, contra toda evidência, continua.

Os profetas sonhavam com o capítulo em que órfãos, viúvas e estrangeiros finalmente seriam acolhidos. A felicidade então se ergueria como uma Torre de Babel invertida, se ergueria da única forma concebível: fruto de trabalho coletivo. Para a Tanakh não existe felicidade que não seja coletiva. As supostas vitórias individuais, as comemoradas felicidades privadas, não passam de doce embuste. O profeta sonha com o dia em que as nações se unirão, transformando as espadas em relhas, as lanças em podadeiras e a guerra em uma prática tão desnecessária quanto anacrônica (Isaías 2:4).

O sangue de Abel marcou Caim. Estamos todos irremediavelmente conectados, berrava fora de si o poeta inglês. A peçonha da peste, atingindo um, a todos afeta. O sangue derramado pela espada colérica de Caim é sangue de Caim.

Jorge Luis Borges disse em algum lugar da sua obra que “teia de homens” foi a melhor metáfora da guerra que a literatura jamais concebeu. A força desta metáfora, hoje entendo, está justamente na idéia de que a guerra a todos indistintamente macula com sangue e ódio. A guerra é um jogo em que todos desgraçadamente perdem.

A tentação do apocalipsismo surgirá no judaísmo tardio, quase como um grito de covardia, uma estratégia para abafar a responsabilidade inegociável que o Talmud requeria: “os justos não têm descanso, não neste mundo nem no próximo”.

Então entra em cena um Nazareno pobre cuja missão era resgatar o que se havia perdido: “o Reino de Deus está no meio de vós”, ele declara.

A narrativa precisa avançar.

Alysson Amorim, no blog Amarelo fosco.

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2 comentários:

Camila disse...

Profundamente comovente e verdadeiro.

Anônimo disse...

ACREDITO Q INDEPENDENTE DOQ É PREGADO EM SUA IGREJA DEVEMOS SEMPRE ORAR E LER A PALAVRA DE DEUS POIS ELA É QUE TEM A RESPOSTA PARA CADA DUVIDA EM NOSSA VIDA ELA É QUEM NOS FAZ TOMAR AS MELHORES DECISÕES E ASSIM VCS Q PASSARAM POR ISSO OREM PARA DEUS VOS AJUDAR A SEGUIR Ñ O COAMINHO Q HOMENS ESTABELECERAM MAS SIM O Q DEUS MOSTROU E DEIXOU PARA SEGUIR Q É JESUS CRISTO.AMÉMMMM

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