Comemora a Cristandade histórica, no dia de hoje, a Epifania (e o Natal em algumas Igrejas orientais), com a visita dos magos (provavelmente mobeds persas) ao Messias recém-nascido, seguindo o sinal da estrela, trazendo presentes e o adorando. Episódio que resultará em um infanticídio em massa, por decreto do rei Herodes, com quem eles tinham "dialogado" antes, fazendo com que aqueles sábios, voltassem por outro caminho. Muita gente procura o Messias pelos poderes desse mundo, mas, ao encontrá-lo regressam à vida por outro caminho.
Do episódio tiramos duas lições básicas: o Evangelho não veio para uma nação: os judeus, mas para todos os povos.
O Padre Antonio Vieira, no apogeu do Império Português, o identificava como a nova nação santa, o novo povo eleito. Assim fora com o Império Bizantino, com o Sacro-Império Germânico Romano, antes, e com o Império Holandês, o Império Francês, o Império Inglês, depois; hoje com o Império Norte-Americano. Seria interessante fazer uma versão "revista e corrigida" dos sermões messiânicos do Padre Vieira, e, onde se lia "Portugal", substituir por Estados Unidos da América. Sabemos que nenhum deles (ou outros que vierem) terão legitimidade para essa pretensão, que perteceu a Israel, e que hoje pertence à Igreja.
Há um problema sério, porém, em cada época, a super-valorização de tudo que vem do Império da ocasião, como "o melhor", ou "o mais correto", a despeito da ligação com sua cultura, ideologia e sistema político e econômico. Um segundo problema sério, é o "esquecimento" de que Deus em Cristo pelo Espírito Santo está operando a sua multiforme graça no resto do mundo. Um "pé atrás", mantendo um senso crítico com o que nos chega do Império da ocasião, por um lado, e a abertura para o que devemos conhecer e acolher do resto do mundo, nos tornaria mais bíblicos, mais universais, mais maduros e mais sadios, "examinando de tudo e retendo o que é bom" para a nossa cultura e identidade. Epifania é "revelação" para todo o orbe terrestre. Como no ensina Stott: "ouçamos o espírito e ouçamos o mundo", mas o mundo todo!
A outra lição: os verdadeiros sábios, seguindo a luz transcendente, chegam ao Messias e o adoram, diz respeito à epistemologia, ao conhecimento sistemático sobre a realidade, seja por métodos teológicos, filosóficos ou científicos (e suas diversas escolas e sub-correntes), de quem não podemos fugir ou demonizar em um estreito anti-intelectualismo, fundamentalista, legalista e moralista, mas, por outro lado, o saber desse mundo, em sua pretensão e em sua arrogância precisa de um choque de humildade. O saber precisa se ajoelhar diante do Messias, para encontrar o significado da luz que os conduzia. Há um valor na interdisciplinaridade. Há um valor em perceber os riscos do dogmatismo teológico, do relativismo filosófico e da não consciência do transitório das conclusões científicas.
Olhemos para o mundo e aprendamos com as ações poderosas de Deus, inclusive nos países pequenos, empobrecidos e periféricos. Com os nossos saberes ou nossos anti-saberes, ajoelhemo-nos diante do Messias, no chão batido da manjedoura, sob o cheiro do capim e o ruminar dos abençoados animais que nos cercam.
Então, e só então, encetemos a viagem missionária que o Senhor tem reservado a cada um de nós.
Robinson Cavalcanti, bispo anglicano.
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