14.2.09

A ressurreição e a vida

O Espírito Santo] na verdade nos faz raciocinar ao contrário. Na revelação [cristã] temos de começar no final a fim de compreender o início. É precisamente isso o que o Espírito Santo nos leva a fazer: ver a cruz através da ressurreição e, similarmente, os pecados do homem através do perdão. A condenação através da graça. É porque Deus nos perdoa que somos capazes de apreender a extensão do nosso pecado, quando para o homem o método natural seria pecar primeiro e pedir perdão a Deus depois. Para mim, isso é absolutamente aberto e absolutamente liberador. É heresia pregar sobre pecado e condenação sem antes pregar sobre liberdade e perdão. [Jacques Ellul, teólogo francês]

O Evangelho de Jesus Cristo não se sustenta sem (pelo menos) sete expressões essenciais: pecado, arrependimento, perdão, cruz, ressurreição, graça e batismo com o Espírito Santo.

Em seu Evangelho, Lucas descreve que Jesus “abriu o entendimento dos discípulos para compreenderem as Escrituras”, fazendo uma espécie de resumo de toda a revelação divina até então: “E disse-lhes: Assim está escrito, e assim convinha que o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressuscitasse dentre os mortos, e em seu nome se pregasse o arrependimento e a remissão dos pecados, em todas as nações, começando por Jerusalém. E destas coisas sois vós testemunhas. E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder” (Lucas 5.45-49).

Naquele que pode ser considerado o primeiro sermão evangelístico da história do Cristianismo, Pedro segue à risca a recomendação de Jesus ao responder à multidão que pedia esclarecimentos sobre o que fazer diante do fato de Jesus Cristo estar vivo: “E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo; Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar. E com muitas outras palavras isto testificava, e os exortava, dizendo: Salvai-vos desta geração perversa” (Atos 2.37-40).

A conversão de Saulo de Tarso é narrada por Lucas em dois momentos distintos do livro de Atos. No primeiro, após ser interpelado pelo próprio Jesus no caminho de Damasco, Saulo fica cego e, em seguida, recebe a visita de Ananias, que lhe diz: “Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo” (Atos 9.17). No segundo relato, o próprio Saulo, agora apóstolo Paulo, oferece mais detalhes de sua conversa com Ananias: “E um certo Ananias (...) vindo ter comigo, e apresentando-se, disse-me: Saulo, irmão, recobra a vista. E naquela mesma hora o vi. E ele disse: Levanta-te, e batiza-te, e lava os teus pecados, invocando o nome do Senhor” (Atos 22.16).

A síntese do Evangelho fica assim estabelecida: Deus quer habitar o ser humano que criou à sua imagem e semelhança, mas, para tanto, há necessidade de uma reconciliação entre Criador e criatura (pecado e perdão), efetivada na cruz e na ressurreição de Jesus (graça), que resulta necessariamente em nova disposição do humano em relação ao divino (arrependimento) e plena comunhão entre ambos (batismo com o Espírito Santo). Quem deseja experimentar a ressurreição e a vida precisa admitir que está morto.

Ed René Kivitz, no site da Ibab.

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