Sou absolutamente viciado em Horário Eleitoral Gratuito. Tem gente que não consegue viver sem acompanhar novela. O "Big Brother" vira verdadeira obsessão para pessoas que aparentemente são até normais. Eu sou tarado em Horário Eleitoral. Mesmo que não esteja trabalhando numa campanha, peço silêncio e me concentro a cada vez que a telinha exibe o slide que anuncia o início do programa.
O mais engraçado é que eu gosto de assistir aos programas políticos mesmo que não sejam de minha cidade ou que eu não conheça ninguém. Adoro assistir aos candidatos proporcionais, vereadores, deputados, senadores. Os melhores são, sem dúvida, os futuros vereadores. Os Zecas do Posto, os Paulos Jeba, os Naldinhos da Rola Bosta, as Marias da Muvuca.
São brasileiros como nós que prometem como parlamentares de Bom Jesus do Ipiuma, Santa Maria da Costa do Monte ou de Dores do Indaiá trabalharem para acabar com a guerra no Iraque, criar um seguro-saúde para cada habitante da cidade, construir metrô, mudar a constituição e resolver o problema do efeito estufa.
Marqueteiros profissionais ou amadores criam slogans que matam de inveja o Duailibi ou o Olivetto (se ele fizesse campanha política). Professora Lobão – pela educação. Tião da Oficina – conserta seu carro, vai consertar a cidade. Dudu da Pernambucanas: emprego, saúde e educação (só?! – pergunto eu). Sem contar os clássicos imorredouros como "bosta por bosta vote em Pedro Geraldo Costa", aliás um publicitário. E aparecem portando enormes chaves de fenda, sacudindo bengalas, segurando vassouras. Gritam, criam gestos e expressões, usam cabelos e roupas inadequadas, são retratos de nossa política.
Mas todos os anos eles aparecem, todos os anos rimos deles, todos os anos os elegemos e todos os anos reclamamos que todo político é cafajeste. Em alguns casos alucinados como estes pegam suas vassouras, seus arcos e flechas, suas chaves inglesas e levam a família toda para viver à grande, ganhando um belo salário, tendo carro e motorista, seguro-saúde, auxílio-residência, participando alegremente das delícias do poder. Incluindo na maioria dos casos as mais deslavadas maracutaias.
E tem uma hora que entra em cena o melhor, o espetáculo mais importante da eleição, o momento culminante: o debate. Repórteres seríssimos, música especial, trucagens e lá estão os candidatos trocando suas idéias (?) de como salvar o mundo.
As regras – pelo menos para mim – são incompreensíveis (um minuto para a pergunta, dois para a resposta, trinta segundos para a réplica, quinze para a tréplica e tanto para o direito de resposta e mais não sei quanto para não sei o que). Mas isso dá um saborzinho especial. O cara tem que falar tudo o que vai fazer na saúde do município em exatamente sessenta segundos.
Evidentemente ele vai criar algo que pareça viável. E aí entram os marqueteiros: os alcaides trarão para a cidade o conceito do PME (Posto de Medicina da Esquina), o AEV (Atendimento Emergencial de Vizinhaça) ou até mesmo a idéia revolucionária do PICA – Posto Individualizado de Cuidados Assistenciais. E assim vai com os CECO (Centro de Educação na Comunidade), o Período Integral de Ensino Básico e as revolucionárias FMDG – Farmácias Municipais de Distribuição Gratuita, seja lá o que isto signifique.
Temos também o SMTI – Sistema Municipal de Transporte Integrado e o Munibus, que é o ônibus municipal de transporte social. Esqueci do SVC que não é agência de viagem mas simplesmente o novíssimo conceito de Sistema de Vigilância Comunitária que trará, finalmente, a paz para as ruas. Dá para perder? Os jingles então estão cada vez melhores.
Antigamente, quando se precisava no mínimo de um estúdio e de um bom gravador para se produzir jingles, eles eram entregues a profissionais. Hoje qualquer garoto com um computador e um tecladinho está pronto para produzir pérolas como "Tá, tá, tá na Hora, Tá, Tá, Tá... Tiana" ou o mesopotâmico "A cidade inteira vai sorrir... Prefeito é o Moacir!". No espírito da coisa, assino e boto fé "quem gosta de ler besteira, não perde o Lula Vieira".
Lula Vieira, no Propaganda & Marketing.
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25.8.08
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