Reproduzo a seguir, comunicado da assessoria de imprensa da Sara Lee Cafés do Brasil Ltda., tratando do conteúdo da coluna da semana passada:“Referente à coluna ‘Café demais, ainda’, do jornalista Stalimir Vieira, publicada no jornal Propaganda & Marketing, do dia 08.09.2008: Informamos que a Sara Lee Cafés do Brasil Ltda., detentora da marca Café Pilão, não é a autora da resposta publicada no dia 08.09.2008, na coluna ‘Café demais, ainda’, do jornal Propaganda & Marketing. A empresa esclarece também que Jairo Soares nunca fez parte do quadro de funcionários da Sara Lee, portanto, a empresa não possui nenhuma responsabilidade sobre a autoria e conteúdo da resposta relatada e publicada.”
Tenho repetido em minhas palestras para empreendedores que “pessoa jurídica” é apenas uma figura de retórica, não existe na prática, o que existe são as pessoas físicas. Ou seja, a imagem das “pessoas jurídicas” não é outra coisa senão a percepção deixada pelas atitudes das pessoas físicas ligadas à “comunidade da marca” (conceito que defendo em “Marca: o que o coração não sente os olhos não vêem”, editado pela Martins Fontes).
No dia seguinte à publicação da coluna em que reproduzi uma suposta (e ofensiva) resposta do Café Pilão a estudantes do Mackenzie que, por sua vez, haviam reagido de forma grosseira a uma mensagem automática do SAC da empresa, recebi um telefonema de Ana Lúcia Brecco, assessora de imprensa da Sara Lee.
Simpática e bem-humorada, ela me surpreendeu. (Uma semana antes, a assessora de imprensa da Mackenzie me havia dado uma “bronca” pela reprodução do que, ironicamente, parece ser o que restou de verdade da história toda: a grosseria dos alunos do Mackenzie). Mas Ana Lúcia me contou que a história que narrei na coluna “Alunos x café” (1/9/2008), sobre os e-mails trocados entre os alunos do Mackenzie e o Serviço de Atendimento ao Consumidor do Café Pilão, datava de 2005 e que é recorrente, desde então, a sua divulgação pela internet, sempre nesta época do ano, em que os estudantes se apressam na realização de seus trabalhos de conclusão de curso (seria como uma piada datada e oportuna).
A novidade, em 2008, segundo a competente assessora de imprensa, terá sido a incorporação aos fatos de uma suposta resposta de um suposto diretor de marketing do Café Pilão, nomeado Jairo Soares. Como está explícito no comunicado que abre a coluna, alguém com esse nome jamais trabalhou na Sara Lee (Ana Lúcia me assegura que foi feita uma busca severa nos arquivos da empresa e que ninguém com esse nome ocupou, em qualquer época, qualquer cargo lá).
Trata-se, portanto, de um capítulo aportado a já legendária ocorrência. Dei uma pesquisada na internet e constatei que, de fato, o assunto fervilha em dezenas de blogs, com as mensagens reproduzidas na íntegra, sob o aplauso da maioria dos blogueiros e comentaristas.
É interessante observar que a reação dos alunos do Mackenzie é atribuída ao estresse provocado pelo trabalho de conclusão de curso. Ou seja, quem passou por isso – provavelmente, boa parte dessa moçada que opera os blogs, acaba se solidarizando com o “pé na jaca” enfiado por eles.
O fato é que esses TCCs acabam se convertendo numa espécie de gincana, em que os grupos saem desesperados atrás de recheio para as lingüiças que depois vão ter que apresentar para as bancas examinadoras.
Enfim, nessa mistura de verdades (que, desavisadamente, requentei) e mentiras (que, mesmo alertado e alertando de que podiam ser mentiras, divulguei), deixo registrada a lisura do remetente da suposta resposta do café Pilão, que me deixou claro que ela podia ser falsa, ter sido inventada (me dando a chance de compartilhar a dúvida com os leitores) e a adequação do comportamento da assessora de imprensa da Sara Lee que, profissionalmente, compartilhou comigo a percepção e a avaliação de um típico fenômeno sociocultural, produto da revolução que a internet vem provocando na disseminação das informações, ao invés de comportar-se como aquelas pessoas que acreditam trabalhar para instituições sacrossantas, às quais qualquer suspeita de cunho ético será sempre imprópria.
E, com isso, dou por encerrada minha participação na história (afinal, eu já percebi que, a depender da imaginação dos internautas, isso ainda pode render uns tantos capítulos).
Stalimir Vieira, no Propaganda & Marketing.
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15.9.08
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