29.9.08

O país do desodorante

“Gênio: 1% de inspiração e 99% de transpiração.”
Thomas Edison

Até o final deste ano, ao lado do futebol, samba, caipirinha, Giselle, vôlei feminino, 50 metros na natação, e muitas outras lideranças incluindo a do Orkut, o Brasil tira o primeiro lugar dos EUA e passa a reinar absoluto no território da compra e uso de desodorantes.

Anos atrás, quando a compra de desodorantes deu um salto espetacular de um ano para outro, a sensação inicial era a de que os institutos de pesquisa ou tinham mudado os critérios de medida, ou tinham errado nos números. Nem um, nem outro, o salto era verdadeiro e agora está mais que confirmado. Somando-se informações do Nielsen, Euromonitor e Abihpec a conclusão é única e consistente: até dezembro, o Brasil passa a ser o maior consumidor de desodorantes do mundo.

As projeções para dezembro de 2008 apontam um mercado de desodorantes no Brasil no valor de US$ 2,314 milhões e US$ 2,310 nos EUA. Na seqüência deverão vir o Reino Unido com US$ 1,399 milhões, a França com US$ 746 milhões e a Alemanha com US$ 738 milhões.
Falando ao Valor, vários dos players relacionaram os principais fatores que levarão o Brasil, neste ano, à liderança mundial na categoria:

1 – Ingresso de novos consumidores no mercado com o crescimento das rendas das classes sociais de menor poder aquisitivo, e o conseqüente adensamento da classe C: em 2002 76% da população brasileira usava desodorante; em dezembro de 2007, 87%;

2 – Durante décadas um produto da família para as famílias que usavam; hoje, um produto individual, e se implodindo para contemplar o interesse específico de diferentes tribos: num primeiro momento, tribos genéricas, tipo, desodorante masculino e feminino, ou para os que detestavam aromas de qualquer natureza; agora, para adolescentes, esportistas, pele negra, pele sensível, ou até mesmo os mais recomendados para determinados tipos de roupa e cor;

3 – De produto sazonal, de um mundo bem distante onde as estações do ano compareciam, obedientes e reguladoras, a um mundo onde primaveras e outonos se superpõem a invernos e verões e, tudo isso, condimentado pelo aquecimento global: as mesmas pessoas carregando no desodorante, além das muitas e novas pessoas que aderiram ao hábito;

4 – E o trabalho extraordinário de disseminação e construção de mercado, porta a porta, realizado no correr dos últimos 40 anos pela Avon e Natura e outros players da venda direta, mais a modernização do varejo com o prevalecimento de empresas especializadas em beleza, onde a referência é O Boticário.

Das 35,5 toneladas de 2003, o “Brasil” passou a consumir 45,9 toneladas em 2007 e projeta 47,9 para este ano: o fim dos constrangimentos, o fim de pessoas com prazo de validade de seus protetores vencidos. Seríamos um país de gênios, conforme pondera Thomas Edison? Ou apenas transpiramos...

Francisco A. Madia, no Propaganda & Marketing.

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