15.9.08

Uma mala nos pés?

“Uns sapatos que ficam bem numa pessoa são pequenos para uma outra; não existe uma receita para a vida que sirva para todos.”
Carl Jung

Ainda que a distância entre braços e pernas seja mínima e façam parte de um mesmo sistema e corpo, na percepção e registro das pessoas não necessariamente as marcas que sensibilizam nossas mãos terão igual sucesso com nossos pés.

Com quase toda a certeza nenhum dos leitores cogitaria de colocar uma “mala” nos pés; mas a Samsonite, sinônimo de malas resistentes e de qualidade, DGP – a tal ponto que se converteu em Designação Genérica de Produto – acredita que sim. Em nosso entendimento, perda de tempo, de dinheiro, de foco. Tudo o que seus executivos vão conseguir é enfraquecer uma marca que já foi mais forte, à semelhança de Sansão, quando teve seus cabelos cortados.

A partir dos anos 70, em todo o mundo e no Brasil também, os executivos foram colocando suas malas de couro de lado e convertendo-se em “samsoniters”. A pequena mala era parte integrante e essencial do kit básico do executivo moderno e de sucesso. Samsonite nas mãos, blazer preto ou azul marinho, gravata de listas e Monblanc no bolso da camisa social estilo americano.

A Schwayder Trunk Manufacturing Company foi fundada na cidade de Denver, Colorado (USA), no ano de 1910. No início, e com poucos funcionários mais o fundador Jesse Shayder, fabricava baús de madeira e malas de mão. Jesse, quando decidiu criar sua empresa, elegeu como missão fabricar a melhor e mais resistente mala do mundo. À medida que a produção foi crescendo, e para demonstrar a resistência do produto, mandava fotos suas com seu pai e irmãos num total de 500 quilos, claro, em cima das malas Schwayder.

Em 1941 decidiu rebatizar seus produtos, inspirando-se na figura mítica de Sansão – e daí Samsonite. Nos anos 50 a Samsonite passou a trabalhar o mercado do Canadá, e anos depois, a exportar para a Europa e outros países. E em 1965 Samsonite Corporation passou a ser a denominação da empresa. Com uma comunicação de extrema qualidade nos anos 70 e 80, demonstrando através de comerciais memoráveis a qualidade de suas malas, ascendeuà condição de referência, em seu mercado de atuação.

E no sucesso, e como em dezenas de exemplos, que temos comentado nesta coluna, sempre duas faces. Quando se consegue, finalmente, convencer o mercado que numa determinada especialização sua empresa é indiscutivelmente a melhor – o que conseguiu a Samsonite no território das malas – esse reconhecimento é de tal ordem que garante sucesso e vida longa na atividade específica, mas praticamente elimina qualquer possibilidade de extensão de linha.

Isso posto a Samsonite, depois de algum tempo e arrependida, concluirá que jamais deveria ter apostado sua marca em calçados e sandálias. E muito menos em outros penduricalhos como vem fazendo, equivocadamente, em outros países.

Francisco A. Madia, no Propaganda & Marketing.

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